

A força do Páko (bambu) nos cultos de Òrìṣà e ancestrais O Páko, como é chamado o bambu na tradição yorùbá, é uma árvore ancestral, cultuada com reverência e temor por estar intimamente ligada ao mundo dos espíritos, dos ancestrais e das potências femininas e transformadoras do universo.
Com seus galhos finos e resistentes, o bambu forma um elo entre os céus e a terra, entre os mundos visíveis e invisíveis.
No Brasil, o bambu é conhecido também como árvore de Égún, ou seja, a árvore dos mortos, dos espíritos. Em seu interior mora o vento de Ikú (a morte); por isso, ele se dobra, canta e se move como quem conversa com os mundos.
Os Òrìṣà ligados ao Páko comandam os Èsà, espíritos ancestrais que lidam com a vida, a morte, a doença, a cura, a justiça e os caminhos do tempo.
Ọya Ìgbalẹ̀, a Senhora dos Ventos da Floresta dos Mortos, é uma manifestação de Yánsàn que habita os bambuzais e comanda os espíritos. Ela sopra por entre os caules do páko e leva mensagens entre os mundos.
Jàgún, nome de Òbalúwàiyé enquanto guerreiro e encaminhador de almas, é também um dos donos do bambuzal, onde se guardam os mistérios da doença e da cura. Ele conhece os segredos do silêncio e do renascimento.
Dakòìjàgun, uma das formas de Òṣàgiyán, também habita o bambuzal. E, mesmo sendo um Òrìṣà funfun (ligado à pureza e ao branco), é um dos poucos que, quando cultuado ali, aceita o epo pupa (azeite de dendê), o que representa sua ligação com forças profundas, densas e ancestrais. Aqui no Brasil, essa forma de cultuar Dakòìjàgun não evoluiu.
Nàná Burúkú, a Mãe dos Pântanos e dos Tempos Antigos, é uma das grandes donas do Páko. Nela habita a memória da terra, a sabedoria dos ciclos e a justiça que vem antes do tempo. Seu culto é inseparável da reverência ao bambuzal, onde seus segredos se escondem.
O bambu também está ligado ao culto das Ìyámi Ajẹ, as poderosas Mães Ancestrais. Além da gameleira, elas aceitam no bambuzal seus ebós e oferendas, mostrando que ali também mora a força feminina profunda, que guarda e também pune, que ensina e transforma.
Com seu crescimento firme e altivo, o páko é símbolo da resistência, do poder oculto e da sabedoria que se ergue em meio ao mundo.
Por isso, ao nos aproximarmos de um bambuzal, fazemos silêncio. Ali não se entra sem reverência. Ali habitam forças que regem a passagem entre os mundos.
E quem cultua Orixá sabe: o Páko não é apenas árvore, e sim um altar vivo de tudo o que veio antes e de tudo que ainda virá.
Nítorí náà, ẹni tó bọ̀wọ̀ fún Páko bọ̀wọ̀ fún àwọn ésà! (Quem respeita o bambu, respeita os ancestrais!)
Axé para todos!