

Especialista recomenta uso de montanhistas que conheçam bem local e sugere utilização equipamentos como drone, GPS de alta precisão, corda, mosquetão e rádio de comunicação O major Fábio Contreiras, do Corpo de Bombeiros do Rio, afirmou que em casos de ocorrências em grandes altitudes, como o da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, o resgate terrestre é o mais indicado. O especialista destacou que em situações de grande altitude e inclinação há necessidade de um planejamento robusto, com uso de equipamentos específicos e pessoal especializado. Como a queda da publicitária se deu num local com mais de 3.500 m de altura, caso do monte Rijani, na Indonésia, a concentração de oxigênio cai e até mesmo a sustentação de helicópteros no ar se torna mais difícil.
—Nem todos modelos de aeronave conseguem trafegar nessa situação. E quando conseguem é necessário levar uma quantidade reduzida de equipamentos e de resgatistas. Soma-se a isso o fato de as condições meteorológicas não colaborarem. Muita neblina e muita nuvem impossibilitaram qualquer voo visual que naquele caso (da brasileira), sendo um vale seria essencial — disse.
Sendo assim, o especialista diz que o resgate terrestre pode ser mais indicado. Nesses casos, ele recomenda uso de equipe de montanhistas experientes e que conheçam bem o local, além de utilização de equipamentos adequados para esse tipo de trabalho.
—Dessa forma, o resgate terrestre acaba sendo o mais indicado. Nesses casos é necessário uma equipe de montanhistas e que conheçam previamente o local, visto a área de grande inclinação de onde a vítima foi vista por último. Equipamentos como drones, GPS de alta precisão, cordas, mosquetões, material para ancoragem, rádios de comunicação, medicamentos e materiais são muito importantes nesse caso — sugere.
Fábio Contreiras diz que em condições adversas uso de helicóptero é mais dificil
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Outros desafios
Na opinião do especialista em salvamentos como esse, a operação precisa ocorrer com urgência. Ele diz que o tempo de resposta também deve ser levado em conta, devido as condições em que a vítima se encontra, com risco de baixa oxigenação de humidade e temperatura podem agravar seu quadro clínico.
— A ação precisa ser imediata. São muitos fatores contra: altitude, frio, desidratação, possíveis lesões internas e até hipoglicemia — alerta o major, que é especialista em salvamentos.
Juliana caiu em uma área de encosta íngreme do vulcão no Monte Rinjani, que se eleva a 3.726 metros do nível do mar. A queda da publicitária, inicialmente, se estendeu por mais de 300 metros montanha abaixo, em um local de difícil acesso, sem possibilidades, segundo a família, de resgate por helicóptero.
A jovem foi vista pela última vez na sexta-feira (21), quando relatou cansaço durante a trilha. O guia do grupo a aconselhou a descansar, mas ao retornar, ela já havia desaparecido. O único sinal visual foi uma lanterna avistada cerca de 200 metros abaixo do penhasco.
Segundo o major Contreiras, o maior obstáculo para a equipe de resgate na Indonésia é o acesso ao local. Segundo o especialista, em situações como essa, o uso de helicóptero costuma ser a primeira opção. No entanto, as condições meteorológicas e a geografia do Monte Rinjani dificultam esse tipo de operação.
— A altitude reduz a sustentação da aeronave. O helicóptero precisa ter uma potência específica para operar nessas condições. Além disso, o voo precisa ser visual, ou seja, o piloto precisa enxergar claramente o terreno. Neblina e ventos fortes tornam o voo extremamente perigoso. O vento pode ser descendente, empurrando a aeronave para baixo, o que cria um risco enorme para a tripulação — explica o especialista.
Mesmo com essas dificuldades, Contreiras acredita que um resgate aéreo ainda pode ser possível, desde que haja uma breve janela de tempo com boas condições climáticas. Caso contrário, o único caminho é o acesso por terra.
— O cenário ideal seria uma operação híbrida: levar os socorristas o mais próximo possível por helicóptero, e dali seguir o restante a pé, com uso de cordas e equipamentos de montanhismo — sugere.
O deslocamento por terra exige uma equipe altamente especializada. O major ressalta a necessidade de socorristas experientes em terrenos montanhosos e com treinamento específico em transporte de vítimas politraumatizadas.
— É fundamental que o grupo leve equipamentos como pranchas, cordas, sistemas de ancoragem e materiais para pernoite. Eles precisam estar preparados para ficar até duas semanas em campo, se necessário — afirma.
A estrutura mínima para uma operação desse porte inclui ao menos cinco pessoas na tripulação do helicóptero, além de seis a dez militares por terra. Somando logística, equipes médicas e suporte de retaguarda, o efetivo pode chegar a 25 pessoas.
— O comandante da operação precisa seguir protocolos internacionais de resgate. Não pode haver decisões por impulso. É preciso avaliar o terreno, as condições climáticas e garantir a segurança dos próprios socorristas — destaca o major.
Além das dificuldades desafios de acesso, outro desafio é garantir que a jovem esteja bem. Segundo Contreiras, uma queda de centenas de metros pode causar múltiplas fraturas, hemorragias internas e lesões em órgãos vitais.
— Em casos assim, trabalhamos com o conceito de vítima politraumatizada. Mesmo com ela consciente, os riscos de deterioração clínica são altos. Há também a baixa saturação de oxigênio no sangue devido à altitude, o que pode comprometer ainda mais a saúde dela — explica.
O oficial lembra que, a partir de 24 horas sem atendimento médico, os riscos de desidratação severa, hipoglicemia e até insuficiência de múltiplos órgãos são riscos iminentes.
O especialista recomenda que as equipes locais mantenham uma força de pronto emprego disponível 24 horas por dia, pronta para entrar em ação assim que o clima permitir.
— Essa equipe precisa estar equipada com alimentos, água, medicamentos, mantas térmicas e material de comunicação. Além disso, é essencial realizar uma reunião prévia com todos os envolvidos, para alinhar os procedimentos e as estratégias de acesso — orienta.
Contreiras ressalta que, mesmo diante das dificuldades, há protocolos consolidados para esse tipo de resgate, que precisam ser seguidos com rigor técnico.
— Não se pode improvisar. A segurança de todos os envolvidos depende de planejamento e execução criteriosa. Mas o mais importante agora é a urgência. Cada minuto conta — finaliza o major.