De acordo com o Inea, a água se manteve dentro dos padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente em 75% das amostras coletadas este mês A informação causou ceticismo no público praiano nos últimos dias, mas o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) garante: a Praia de Botafogo está própria para banho, desde o dia 14. As águas turvas e barrentas estão dando lugar a um mar cristalino, e até tartarugas marinhas estão sendo avistadas pelos visitantes, que, segundo observadores, estão se tornando mais frequentes. Agora, o local se soma a outras praias da Baía de Guanabara própria para os banhistas, como a do Flamengo e a Prainha da Glória.
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Biólogo mostra águas cristalinas na Praia de Botafogo
Água cristalina, tartarugas e peixes
De acordo com o órgão ambiental, na análise da qualidade da água são verificados os níveis de bactérias de origem fecal (enterococos). Para a praia ser considerada própria, a concentração de enterococos deve ser inferior a 100 NPM (Número Mais Provável) por 100 mililitros de água, como estabelece o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o que ocorreu em 75% das amostras coletadas do início do mês até terça-feira (27), informa o órgão.
Águas cristalinas na Praia de Botafogo
Ricardo Gomes/Instituto Mar Urbano
Diretor do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, que, desde 2023, mergulha em diferentes pontos da Baía de Guanabara, incluindo a Praia de Botafogo, para realizar estudos sobre o ecossistema marinho, conta que tem avistado peixes em meio à água cristalina e se diz animado.
— Eu tenho feito mergulhos na Praia de Botafogo em dias alternados e, no início do mês, tive a sorte de filmar a água transparente. Eu registrei a água mais limpa que já vi na minha vida ali. Mergulhei e vi cardumes de carapeba e tartarugas-verdes, uma das maiores espécies de tartarugas marinhas, podendo atingir até um metro e meio de comprimento e pesar mais de 200 quilos. Possui carapaça oval, de coloração verde-oliva ou marrom, e nadadeiras adaptadas para longas migrações oceânicas. Esses bichos estão ali — celebra. — Não é todo dia que a água fica assim, mas acredito que estamos no caminho de ver essa praia cada vez mais limpa e cheia de banhistas. Tenho reparado que já tem gente que se arrisca a mergulhar.
O biólogo Ricardo Gomes em mergulho na Praia de Botafogo no início de maio
Instituto Mar Urbano
Moradora de Botafogo, a designer de interiores Thaís Duque, que costuma caminhar pela orla de manhã, diz que tem notado a transformação da praia.
Tartaruga avistada na Marina da Glória
Gabriel de Paiva
— Antes de ficar própria para banho, há alguns meses, eu praticava canoa havaiana e via muito lixo flutuando. Já cheguei a ver um rato nadando. Mas, recentemente, percebi que a água está mais limpa e que tem mais pessoas mergulhando. Sinto que a areia, que era muito suja, também está mais limpa. Agora está bem melhor — observa.
No início da semana, a socióloga e empresária Natália Oliveira, administradora do perfil do Instagram @oquefazernorio, causou repercussão nas redes após publicar um vídeo mergulhando na praia. Ela disse que aprovou a experiência.
“Está ótima. Está uma delícia. Perdi todo o preconceito. Nenhum saco de lixo agarrou em mim e nenhum dedo humano”, brincou. “Eu estava achando que iria encontrar uma praia muito suja e muito ruim. E foi de boa”.
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Considerado um dos cenários mais exuberantes da cidade, incluindo uma vista de tirar o fôlego para o Pão de Açúcar, a praia de mar manso era point de cariocas e turistas até a década de 1960, quando começou a ser afetada pelo desenvolvimento urbano e as obras de aterramento do Flamengo.
Desvio de rio e interceptação do esgoto
Os resultados positivos de balneabilidade começam a aparecer depois de intervenções para a recuperação ambiental da Baía de Guanabara, como o desvio do curso do Rio Berquó, que lançava água contaminada com esgoto na Praia de Botafogo. As medidas fazem parte das obrigações contratuais da concessionária Águas do Rio, e vêm sendo realizadas desde 2021, quando a empresa deu início à operação de saneamento em partes do Rio.
De acordo com a concessionária, uma das principais ações responsáveis pela melhor qualidade da água foi a limpeza completa do Interceptor Oceânico, túnel de nove quilômetros de extensão que capta a maior parte do esgoto da Zona Sul e o encaminha para o Emissário Submarino de Ipanema. Foram retiradas três mil toneladas de resíduos.
— Hoje, esse equipamento sanitário trabalha na sua capacidade plena. Essa limpeza permitiu que o coletor ganhasse espaço para receber mais esgoto e, consequentemente, os recorrentes extravasamentos em praias oceânicas foram reduzidos consideravelmente. Com o sistema funcionando com níveis mais baixos, é possível receber mais efluentes e direcioná-los para o Emissário Submarino. Isso tem impacto direto nos rios Banana Podre e Berquó, que correm em direção à enseada de Botafogo e foram desviados para o Interceptor — afirma Renan Mendonça, diretor executivo da Águas do Rio na capital.
Praias do Flamengo e da Glória a todo vapor
O mesmo foi feito com o Rio Carioca, que desaguava na Praia do Flamengo, a qual tem estado própria para banho desde 2022. Desde então, o local tem ganhado cada vez mais adeptos, com banhistas e praticantes de esporte que lotam o mar e a areia aos fins de semana.
— Você vê que cada dia está surgindo uma escolinha de natação na Praia do Flamengo, que tem ficado lotada dia de domingo — relata Ricardo Gomes.
A concessionária destaca ainda que implantou uma estação elevatória de esgoto na Praça do Índio, no Flamengo, que também envia para o Interceptor Oceânico aproximadamente 50 litros por segundo de esgoto que ia para a Baía de Guanabara, em um trecho entre as praias do Flamengo e de Botafogo. A empresa estima que, hoje, mais de 100 milhões de litros de água contaminada com esgoto deixam de ser despejados diariamente nesses cartões-postais da cidade.
Os resultados das praias das zonas Sul e Oeste da capital são divulgados pelo Inea semanalmente, toda sexta-feira. O órgão recomenda evitar o banho de mar nas primeiras horas após as chuvas e perto da saída de galeria de águas pluviais ou canais de drenagem.
