O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou alta de 1,4% no primeiro trimestre de 2025, completando 15 trimestres consecutivos de crescimento. Apesar do ritmo considerado positivo, o economista Paulo Kliass chama atenção para limitações estruturais da economia nacional e alerta que “estamos longe do que seria necessário para recuperar o desastre que foram os seis anos” com o ex-presidente Michel Temer (MDB), depois com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Kliass explicou que a análise mais adequada do avanço do PIB deve considerar a comparação com o mesmo período do ano anterior, ou seja, o primeiro trimestre de 2024 e não o trimestre anterior. Nesse critério, o crescimento foi de 2,9%, ritmo próximo ao observado nos dois anos anteriores do governo Lula (PT). “É um ritmo razoável”, diz o economista, embora ressalte que está aquém do necessário para uma mudança estrutural do país.
Um dos setores que mais impulsionaram a economia neste início de ano foi o agropecuário, com crescimento de 12%. Kliass alerta para a distorção gerada por esse avanço. Ele lembra que boa parte da alta no campo está ligada à exportação de commodities como soja e açúcar, que não impactam diretamente os preços dos alimentos no mercado interno. “Vivemos torcendo para que o agronegócio vá bem. E não é isso que deve acontecer, muito pelo contrário”, critica.
“Há 30 anos, o Brasil vive nessa agrodependência. […] O agronegócio usa isso como chantagem porque sabe que é importante para a dinâmica da economia brasileira, mas não paga tributo, empregam muito pouco”, resume o economista. Para ele, é preciso reverter essa lógica e investir em setores que geram emprego de qualidade, como a indústria e a agricultura familiar, além de retomar políticas públicas como os estoques reguladores. “O governo vai ter que tomar outras medidas, mais do que necessárias, para estimular a agricultura familiar”, defende
O economista também destacou o enfraquecimento da indústria, setor que teve retração de 0,1% no trimestre e cuja participação no PIB vem caindo há décadas. Para ele, a chamada Nova Indústria Brasil (NIB), programa do governo federal, ainda não decolou. “Infelizmente, ainda não conseguiu andar porque tem problemas de verbas”, explica.
Dois fatores principais explicam o encolhimento industrial, segundo Kliass: os juros elevados e a valorização artificial do real. “Com taxas de juros elevadas, você não tem estímulo a realizar empreendimentos”, afirma. Ele aponta ainda que a política econômica brasileira desde os anos 1990 tem priorizado o combate à inflação com base em juros altos, o que atrai capital especulativo, valoriza artificialmente a moeda e dificulta a competitividade da indústria nacional.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.