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Master Tralha: influencer da Zona Norte do Rio conquista seguidores e cliques nas redes sociais

 

Paulo César Silva do Amaral, de 31 anos, já acumulou quase um milhão de seguidores só no Instagram, e o mesmo número no TikTok Um chef de cozinha diferente, que não está preocupado em criar pratos sofisticados ou mirabolantes. Suas receitas são bem simples, e os ingredientes usados estão ao alcance de qualquer mortal: pode ser um miojo, uma sobra do churrasco da véspera ou apenas aquele ovo esquecido na geladeira. Tudo isso temperado com o humor muito carioca do Master Tralha, nome artístico do influencer Paulo César Silva do Amaral, de 31 anos, que vem conquistando seguidores e cliques nas redes sociais com sua criativa gastronomia de subúrbio. Em pouco mais de seis meses, o morador de Bento Ribeiro, na Zona Norte, já acumulou quase um milhão de seguidores só no Instagram, e o mesmo número no TikTok. No YouTube são perto de 300 mil inscritos.
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Um vídeo postado em 9 de dezembro do ano passado com uma inusitada receita de “cachorro-quente de panela” (confira o modo de preparo nesta página) é o de maior sucesso. Já tem mais de 19 milhões de visualizações. Na falta do pão, ele misturou ingredientes tradicionais do sanduíche à moda carioca, como milho, ervilha, molho de tomate e batata palha. Mas também improvisou com sobras de arroz, além de pimenta-do-reino e fatias de queijo mussarela, transformando o lanche rápido numa refeição. Em outra postagem, ensina a preparar um “macarrão turbinado” com bananas, azeitonas e sardinhas. Ou ainda como proceder quando tudo o que há na geladeira são apenas quatro ovos. Nesse caso, ele improvisou uma receita com pimentão, cebola, tomate, cheiro-verde, sal e, mais uma vez, sobra de arroz (quem não tem?).
— O melhor tempero é a fome. A vida vai te ensinando a fazer litros e mais litros de limonada com um limão só. Isso ajuda a criar uma empatia com o público porque é a realidade de muita gente— ensina.
Adeus ao amadorismo
Paulo conta que foi o perrengue, enfrentado desde muito cedo, que o transformou em cozinheiro.
—A culinária entrou na minha vida meio sem querer, pela necessidade mesmo. Minha mãe saía para trabalhar e me deixava em casa com minha irmã. Muitas vezes, a única coisa que ele deixava pronto era o arroz. Aí tinha de complementar com alguma coisa, que ia surgindo na base do improviso — lembra.
Até se transformar no mais novo famosinho da internet, Paulo teve uma vida marcada por dificuldades e fez de tudo um pouco. Na adolescência fazia carretos na feira, depois foi motoboy, camelô e ajudante de pedreiro. Más companhias quase o levaram para o mundo do crime, mas ele foi salvo pela internet. O apelido “Tralha” vem daí. Nos dicionários, a palavra tem vários significados, entre eles “coisas sem valor, serventia ou importância, cacarecos etc”. Já no glossário das favelas, também é a forma como se referem a pessoas envolvidas na marginalidade.
Antes de fazer sucesso com os vídeos de receitas inusitadas e bem-humoradas, Paulo já foi Biscoitão. Usando o apelido que o acompanhava desde a infância, chegou a pilotar um podcast, chamado “Papo de cria”, no qual mirava o público das comunidades e chegou a entrevistar artistas identificados com a cultura da periferia, como Xande de Pilares, cuja infância foi passada no Morro do Turano, na Tijuca. Mas a iniciativa não deu muito certo, e dois anos depois saiu do ar.
Com a notoriedade alcançada pelos vídeos de receitas, hoje quem dá entrevistas é ele. A que gerou essa reportagem, por exemplo, foi concedida num estúdio no Recreio, durante intervalo das gravações de sua participação no podcast “Fábrica de monstros”, comandado por Léo Stronda, fisiculturista, youtuber e ex-rapper (foi vocalista e um dos fundadores da dupla de hip-hop Bonde do Stronda). Ele também já gravou com o humorista e youtuber Diogo Defante e com o apresentador David Brazil.
— Master Tralha é autêntico, é a voz do povo. Quando você vê seus vídeos, se identifica muito. Você se imagina com ele numa resenha com os seus amigos brincando, zoando, cozinhando, fazendo uma receita. Eu acho que o maior sucesso dele vem desse jeito espontâneo de brincar com as gírias atuais, com o momento atual, e estar fazendo uma coisa que todo mundo faz, que é sentar, cozinhar, preparar um ranguinho para comer, bater a fome— avalia Léo Stronda, que também apresenta na internet o programa “Monstro na cozinha.
O sucesso dos vídeos de culinária veio rápido, mas as primeiras gravações surgiram de forma tão improvisada como as receitas de Master Tralha, cujo nome também brinca com o termo “Master chef”, que batiza o famoso programa de culinária na TV. O cenário era a cozinha de sua casa em Bento Ribeiro. A esposa, Luana Coura, de 28 anos, era quem pilotava a câmera, no caso um aparelho de celular velho e sem muitos recursos. O próprio Paulo editava. As primeiras postagens foram feitas em novembro e logo chamaram a atenção, não só dos internautas, mas também de grandes marcas interessadas em patrociná-lo.
Com isso, o amadorismo logo ficou para trás. Master Tralha continua gravando em casa, mas ganhou o suporte de uma grande agência responsável pela carreira de criadores de conteúdo. Se antes tudo era feito em dupla com a mulher, hoje ele já conta com uma equipe composta por cerca de dez profissionais, incluindo produtores e assessores. Luana, sua companheira há 13 anos, agora é só a voz por trás dos vídeos. Sua imagem nunca aparece. Para gerar curiosidade, os internautas ouvem apenas suas intervenções bem-humoradas auxiliando ou chamando a atenção do marido. Tudo na base do improviso também, sem roteiro.
— Tudo começou durante as primeiras gravações. A gente achava que não estava bom e faltava alguma coisa. Começamos a testar e deu certo. Prefiro continuar assim, aparecendo só com a minha voz. Sou muito tímida. Deixa assim: a pessoa pública do casal é ele — afirma Luana, que, no entanto, diz que em alguns locais, principalmente quando está acompanhada do marido, não pode abrir a boca porque imediatamente é reconhecida como a voz por trás dos vídeos.
Apelido para tudo
Outra característica de Master Tralha é apelidar ingredientes utilizados em suas receitas, sempre fazendo graça. No momento em que o preço do azeite foi parar nas alturas e começou a desaparecer das mesas de uma parcela da população, ele passou a chamar o produto de “suor do Neymar”.
—Como ele é um jogador muito caro, suponho que o suor dele também seja. Daí a comparação— brinca.
A brincadeira não para por aí: pimenta-do-reino, por conta da cor preta, é chamada de “pimenta negão ou afrodescendente”. O creme de leite, bem como a linguiça calabresa e a salsicha, acabaram ganhando apelidos com conotação sexual. As duas últimas sempre aparecem nos vídeos sendo medidas por uma fita métrica, que virou marca registrada. E, dependendo do tamanho, são associadas a uma personalidade famosa. Utensílios de cozinha —como o liquidificador, que virou “Diabo da Tasmânia”, em referência a um personagem de desenho animado— também costumam ser rebatizados. Com isso, ele acaba criando um vocabulário próprio.
Como tem um público infantil e adolescente muito grande, Master Tralha conta que tem a preocupação de não ser uma má influência. Por isso, evita mostrar bebidas alcoólicas ou fazer publicidade de jogos de azar nos seus vídeos:
—Não posso ficar induzindo o povo de onde eu vim com falácias e mentiras de que vão ficar ricos com jogos de roleta ou apostas.
‘Deixei de ser invisível’
Sem falar em valores, ele garante que os vídeos já dão retorno financeiro. E diz que descobriu que através das redes sociais poderia mudar sua vida e a de sua família.
—As coisas vêm com o tempo, de acordo com a entrega do nosso trabalho. Mas meu sonho já realizei, que era matar aquele Paulo do passado. Chegou na minha vida o Master Tralha só com alegria, e hoje deixei de ser um cara invisível — celebra o influencer, que já fechou parcerias com marcas como Bom Gosto e iFood, além de estabelecimentos como o Mirante do Avrão, no Vidigal.
Apesar da realização no campo pessoal, há algumas no terreno profissional que ele ainda espera concretizar. Uma delas é ter um programa de TV, com as mesmas receitas populares que faz na internet. Outro desejo é ter condição financeiras para criar um projeto social e, assim, ajudar os mais necessitados.
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