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Maracanã faz 75 anos amanhã: lembre a ‘batalha’ para construir o estádio que se tornou um monumento do Rio

 

O antigo ‘maior do mundo’ recebeu duas finais de Copa, entre outras partidas antológicas, shows de estrelas da música, um papa, uma rainha e o Papai Noel Pouco importa o setor, geralmente quem quer que já tenha ido ao Maracanã consegue lembrar a sensação única de entrar pela primeira vez no estádio. Tem sido assim há 75 anos, e nada indica que deixará de ser tão cedo. A inauguração, com as cerimônias e autoridades de praxe, aconteceu em 16 de junho de 1950. Nas arquibancadas, ainda havia andaimes montados. No dia seguinte, com entrada franca, aconteceu a primeira partida. Encheu, claro. O selecionado paulista bateu o carioca por três a um, mas o resultado era o que menos importava. Os que estavam ali tiveram o privilégio de experimentar antes de todo mundo o frisson único que acompanharia gerações.
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Sete dias depois do jogo inaugural, com o estádio ainda precisando de arremates, a seleção brasileira entrava em campo para golear o México por quatro a zero. Era o início da Copa de 1950. A quela partida foi o capítulo final de uma longa disputa que havia mobilizado parte da sociedade carioca por pelo menos 4 anos, desde que a Fifa havia anunciado, em 1946, que o Brasil seria a sede do mundial.
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Houve quem defendesse a ampliação de São Januário, o maior estádio da cidade à época. Em artigos apaixonados o jornalista Mario Filho — editor do caderno de esportes do Globo — não só incentivou a construção da nova arena como bateu na tecla de que deveria ser grande. O maior do mundo. Em 1947, a batalha parecia perdida. A demora em se tomar a decisão explica, em parte, os andaimes e madeiras aparentes na abertura da Copa. Só em 20 de janeiro de 1948, foi lançada a pedra fundamental do mais carioca dos estádios.
Batalha para a construção do ‘maior do mundo’
O terreno escolhido — não sem polêmica — foi a enorme área onde existiu o antigo hipódromo da cidade. Quem torcia o nariz para a ideia, fez pressão para que fosse em Jacarepaguá. Para construir o estádio ali a prefeitura teve que negociar até com o Exército, que ocupava parte da área. Tomada a decisão, o local passou a ser chamado nas reportagens como o “Colosso do Derby”. E assim ficou por um bom tempo. A forma de nomear o estádio simplesmente como Maracanã aparece pela primeira vez no Globo apenas nos últimos meses de 1950, bem depois da Copa e da desastrosa derrota do Brasil para o Uruguai na final: o mundialmente famoso Maracanazo.
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O fato é que é difícil imaginar o Rio sem o Maracanã. Como templo maior do futebol, faz parte da cultura carioca, como o samba e a praia. O estádio, que ostentou por anos o superlativo título de “maior do mundo”, é palco para emoções que vão além do futebol. É verdade que recebeu duas finais de Copa do Mundo e tantas outras partidas históricas do futebol brasileiro e espetáculos musicais memoráveis — entre os quais a segunda edição do Rock in Rio (1991) e shows de Frank Sinatra (1980), Kiss (1983), Madonna (1993) e Paul McCartney, o primeiro de muitos do beatle no Brasil, em abril de 1990.
A segunda edição do Rock in Rio foi realizada no Maracanã em 1991
Custódio Coimbra – 20/01/1991
O Maracanã também viu a Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, encontrar os craques Pelé e Gerson, e recebeu uma partida de vôlei entre Brasil e União Soviética (1983), uma exibição de basquete, a visita do Papa João Paulo II, e, durante muitos anos, até de Papai Noel. Sem trenó, mas de helicóptero, o Bom Velhinho pousava no gramado para delírio de milhares de crianças (e de seus pais também).
A festa fazia parte de uma iniciativa do GLOBO e chegou a reunir público estimado em 250 mil pessoas na edição de 1978.
Teve até casamento: em maio de 2014, os jornalistas esportivos Aline Bordalo e Alexandre Araújo disseram sim em pleno Maraca:
— Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Uma coisa linda ver o templo sagrado aberto para o nosso amor, sabe? Foi melhor do que comemorar título, comemorar gol, olhar aquela grandiosidade e dizer sim para o amor da minha vida e ele para mim também. Foi uma noite perfeita — relembra a botafoguense Aline, que frequenta o estádio desde criança, levada pelo pai.
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Aline e Alexandre na hora durante o casamento no Maracanã, em maio de 2014
Custódio Coimbra
Ao longo de sete décadas e meia, o Maracanã mudou bastante, mas nada parecido com as transformações impulsionadas pela realização dos Jogos Panamericanos (2007) e depois para a Copa de 2014. As obras trouxeram conforto, instalações modernas, mas há quem lamente que tudo isso tenha levado parte da alma do estádio.
Perguntado sobre que parte do velho estádio gostaria de trazer de volta, o escritor Luiz Antonio Simas, autor de “Maracanã – Quando a cidade era terreiro” (Mórula Editorial), foca em um personagem: o geraldino, como ficaram conhecidos os frequentadores da extinta geral.
— A geral, espaço mais popular do estádio, era muito precária, a gente tem que ter um certo cuidado para não romantizar o precário. Efetivamente, era o espaço em que você ficava em pé e assistia pouquíssimo do jogo, porque você ficava na linha do gramado — reflete Simas. — Eu traria de volta o geraldino.
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No capítulo que trata do Flamengo, Simas cita Gerdau, geraldino que se tornou famoso por zanzar de um lado para o outro da geral acompanhado as jogadas do time e disparando, aos berros, instruções (nem sempre certeiras) para os jogadores e o técnico da equipe. Abelard Paiva de Abreu, de 54 anos, se lembra bem do Gerdau. Ainda criança, levado pelo pai, que era funcionário da Suderj — órgão do governo do estado que por anos administrou o Maracanã e onde Abelard trabalha hoje —, foi gandula no estádio. Sabe aquela sensação incrível de quem entra no estádio? Imagine para um garoto de 10 anos, quase dentro do campo.
Outros tempos: geraldinos durante jogo no Maracanã
Custódio Coimbra
— Teve um jogo, em 1980, aquele do Flamengo e Atlético Mineiro (decisão do Campeonato Brasileiro, 3 a 2 para o time do Rio, que ganhou seu primeiro campeonato nacional), que foi muito marcante. Inesquecível, entendeu? Foi a coisa mais linda que eu vi na minha vida, a maior emoção. Eu, garoto, e aquela festa imensa. Ficou muito marcado — lembra Abelard.
O futuro do estádio
A essa altura do campeonato, o fato é que aquele velho maraca não volta mais. Em setembro do ano passado a dupla Fla-Flu assinou contrato com o estado para gerir o “colosso” por mais 20 anos. Com ou sem geraldino, o Maracanã segue firme aos 75 anos. Em setembro, a dupla Fla-Flu assinou contrato com o estado para gerir o “colosso” por mais 20 anos. Além da massa que enche os estádios, milhares fazem o tour do estádio, que pode incluir chute no gol e foto com réplica da Taça Libertadores. Em 2023, foram 356.444 visitantes e a parcial dos primeiros cinco meses deste ano aponta para crescimento de 30%.
— O Maracanã é referência. Sendo assim, o nosso compromisso está sempre na busca de garantir ainda mais segurança, conforto, tecnologia e acessibilidade a torcedores, atletas, prestadores de serviço e profissionais de imprensa que frequentam o estádio. A curto prazo, o Maracanã já contará com a troca de toda a iluminação do gramado e a finalização do planejamento para as trocas dos telões e da iluminação cênica, além de outras novidades. Para 2027, está prevista a construção do Novo Museu do Futebol — conta Severiano Braga, CEO do estádio.
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