
Recordista de partidas na última temporada do futebol brasileiro, principal estádio do país aproveita período da Copa de Clubes para plantio de grama de inverno; gestão acredita em piso mais forte Alvo de críticas durante os últimos anos, o gramado do Maracanã vive uma fase de estabilidade. Com exceção de apenas um jogo do Campeonato Carioca, no qual Flamengo e Fluminense — donos da gestão compartilhada desde 2019 — reclamaram da rigidez, o piso vem se sustentando bem em meio à maratona habitual de partidas. No dia do aniversário de 75 anos do maior estádio do Brasil, os responsáveis ainda celebram uma pausa inédita, em razão da Copa do Mundo de Clubes, e projetam um restante de 2025 no mesmo padrão.
O Maracanã é o palco mais utilizado pelo futebol masculino profissional no país. Em 2024, foram 72 jogos, fazendo dele o único a passar da marca dos 70. Morumbis, Beira-Rio e Neo Química Arena, por exemplo — comparados por sua história ou pela qualidade do gramado — não figuraram no top 10 do quesito. Até agora, neste ano, o estádio já teve 32 compromissos.
— Por ser um ser vivo, o gramado também precisa de descanso. Do mesmo jeito que as pessoas reclamam do calendário para atletas, o calendário para o gramado também não é bom — diz ao GLOBO Severiano Braga, CEO do Maracanã. — Entendo que estamos melhores que no ano passado. Ano a ano, conseguimos ter uma performance melhor do gramado.
Número de jogos do Maracanã
Há pouco mais de dois anos, o piso é híbrido, sendo composto em sua maior parte pela grama natural do tipo “Bermuda Celebration”, adaptada ao clima tropical, plantada numa caixa de areia desde dezembro de 2022. Porém, há uma fibra injetada, de 18 centímetros de profundidade, implementada em março de 2023. Essa receita não garante durabilidade para o ano inteiro, mas reduz os danos e permite uma recuperação mais rápida.
Voltando ao início de 2024, o gramado iniciou mal por sofrer o efeito de uma temporada completa somada a dois shows, realizados no final do ano anterior, mas algumas mudanças no calendário permitiram uma melhoria na operação. A principal delas foi a delimitação de datas Fifa que, pelo menos três vezes ao ano, permitem uma pausa de cerca de dez dias.
Agora, o Maracanã ainda se vê em meio a uma pausa inédita, ao menos desde que a dupla Fla-Flu assumiu a gestão do estádio. A realização da Copa do Mundo de Clubes da Fifa pausará o Brasileirão por um mês, com jogos voltando em meados de julho. Porém, o último em seu gramado foi a goleada do rubro-negro sobre o Fortaleza em 1º de junho. Serão mais de 40 dias em repouso. Esse período será ideal para o plantio do gramado de inverno.
— Necessitamos de, no mínimo, 20 dias para esse crescimento e o consórcio das duas gramas. Então, coincidiu com um período ainda maior, algo inédito no meio do ano no Maracanã. Além de todo o trabalho que já realizamos nos anos anteriores, agora temos esse tempo disponível para que a grama desenvolva um vigor maior. A tendência é de um gramado muito mais forte, com vigor para o segundo semestre da temporada — explica Lucas Pedrosa, engenheiro agrônomo da Greenleaf.
“Não pise”
O dia a dia de partidas é mais intenso, principalmente quando há compromissos de torneios nacionais intercalados com os continentais. Além dos 90 minutos de jogo, a equipe responsável também se preocupa com o período de aquecimento, quando duas delegações inteiras permanecem no gramado por mais de meia hora.
Ainda assim, o processo vem sendo controlado. Apenas no dia 8 de fevereiro, um Fla-Flu no início da temporada foi marcado por reclamações do zagueiro Thiago Silva, do treinador Filipe Luís e de outros integrantes das equipes.
— Nesse jogo, avisamos que o campo ia estar um pouco mais duro, que tentaríamos fazer uma irrigação um pouco mais pesada. A gente tenta deixar os clubes avisados, porque os jogadores já chegam aqui sabendo como vai estar. Era esperado — lembra Gabriel Rodrigues, engenheiro agrônomo do Maracanã.
Gramado do Maracanã recebe tratamento das SGLs, luzes artificiais
Guito Moreto / Agência O Globo
A rotina de recuperação inclui a utilização das SGLs — sigla para “Supplying Green Lights” —, luzes artificiais que aceleram o processo de reparo do campo, em especial quando jogos são realizados à noite. Nas últimas semanas, esses equipamentos em diferentes espectros ocupam o gramado do Maracanã, que se encontra cercado por placas de “não pise”.
Flamengo e Fluminense já têm uma rotina onerosa e ainda podem haver outros eventos, como shows de música — hoje, palcos são permitidos apenas no gramado sintético ao redor do campo — e partidas de Vasco e Botafogo. Inclusive, o cruz-maltino fez um acordo para fazer jogos no Maracanã neste ano e em 2026, o que, segundo a gestão, não representa um desafio adicional.
— É adaptação. A gente já teve época de fazer Flamengo e Fluminense, terça e quarta, ou quarta e quinta. Aí no fim de semana, mais jogo. Na outra semana descansa, na outra tem jogo. Então isso aí tudo depende da adaptação. Fazemos de acordo com o que acontecer — finaliza Braga.
Maracanã recebe plantio de gramado de inverno em meio a pausa para data Fifa
Guito Moreto / Agência O Globo