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Laços familiares: algumas reflexões de um conselheiro familiar

 

Família é afeto em carne viva. É encontro, em meio a tantos desencontros. É eternidade, revestida de temporalidade. É para sempre, em meio ao fim “Família é afeto em carne viva. É encontro, em meio a tantos desencontros.”

 

“Com sabedoria se edifica a casa, e com entendimento ela se firma.” Provérbios 24.3

Tenho 64 anos recém-completados, e mesmo depois de tantos caminhos — da universidade de psicologia ao consultório, da minha ordenação como ministro presbiteriano a tornar-me membro da comissão contra a intolerância religiosa — sigo aprendendo, todos os dias, com o que mais me surpreende e impacta: família, seja a minha, ou aquelas conhecidas nas minhas escutas ao longo de mais de 40 anos como conselheiro familiar.
Mais do que um espaço de convivência, a família é um campo sutil e profundo de experiências que nenhuma teoria, livro ou doutorado é capaz de abarcar por inteiro. Ela é viva, mutável, complexa — e, muitas vezes, inconceitual.
Vivi um desses capítulos desafiadores e delicadíssimos há alguns poucos anos, quando acompanhei por sete anos o processo de Alzheimer de minha mãe.
Assistir à sua lenta partida, sem despedidas claras, sem a chance de conscientemente partilhar seus últimos sorrisos e lágrimas, foi algo que nenhuma formação acadêmica poderia me preparar.
Afirmo com absoluta segurança que família é TUDO!
Família é afeto em carne viva. É encontro, em meio a tantos desencontros. É eternidade, revestida de temporalidade. É para sempre, em meio ao fim.
Considero que manter uma família saudável e perene, seja, talvez a maior obra que possamos construir. Não se trata apenas de desejo, sentimentos variados, ou mesmo muito esforço. Família requer inúmeros predicados — cuidado emocional, espiritualidade sincera e, sobretudo, trabalho diário de entrega, resignação, disponibilidade e escuta acolhedora.
É um movimento constante entre o morrer e renascer diariamente. Ser nutrido e nutrir. Tudo isso exige da gente mais do que fórmulas prontas: exige decisão pactuada, inicialmente entre o casal até futuramente ser compartilhada pelos filhos.
Ao longo de décadas de escutas familiares, concluo, sem hesitação, que a quase totalidade das doenças familiares e sua ruptura acontece por ruídos agudo na comunicação, e não por falta de amor, como se pode equivocadamente deduzir.
Não há nada mais destrutivo e adoecedor para a prosperidade familiar do que o silêncio como expressão de desistência, desinteresse e sequestro da individualidade – expectativas frustradas, palavras acidas e ressentimentos acumulados – todos esses somados formam o cardápio para o adoecimento familiar, até sua morte.
Maio é chamado, especialmente pelos religiosos, o mês da família. Eu já acho que não há momento preferencial para pensar e falar sobre família. Esse tempo é sempre, diário, constante para parar, respirar e refletir sobre a preciosidade que é viver em laços familiares.
Convido você, que está bem-casado há anos. Convido você, que está em crise, também há anos. Convido você recém-casado, feliz ou não. Convido a todos casados e solteiros, a fazermos uma grande ode à família, e pactuarmos investir todo esforço e amor para sua manutenção e prosperidade.
Entretanto, é sempre bom lembrar que família não é cenário idealizado. É gente real, tropeçando junto, aprendendo a ser suporte mútuo. É local de cotidiano imperfeito, onde nascem gestos mais potentes: um pedido de desculpas, um abraço inesperado, um silêncio respeitoso, uma escuta que acolhe.
Família é casa de cuidado, local de descobertas desafiadoras, coração que pulsa compreensão e oportunidades, abrigo rochoso para acolhimento em tempos de vendavais.
Me despeço com o singular e sensível conceito sobre família de Virgínia Satir: “A família é o lugar onde se formam os sentimentos de valor pessoal. É o termômetro que molda a autoestima.”
Seja qual for a sua família, espero que se sinta bem-vindo e agradecido!

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