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‘Irã teve uma derrota militar e uma vitória política’, analisa Reginaldo Nasser

Após 12 dias de bombardeios e confrontos, o Irã anunciou o fim do conflito com Israel como uma “grande vitória dos persas”. Para Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no entanto, o balanço do embate é mais complexo. “O Irã teve uma derrota militar e uma vitória política”, avalia.

 

Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Nasser analisa que a ofensiva militar israelense expôs fragilidades no sistema de defesa iraniano. “A infiltração que Israel teve nos seus sistemas de defesa e de inteligência é algo inacreditável. A cúpula militar do Irã foi completamente liquidada”, afirma. Por outro lado, ele observa que a resposta popular ao ataque gerou um sentimento de unidade nacional, inclusive entre iranianos que vivem no exterior e são críticos ao regime.

“Nenhum compatriota quer ver seu país destruído, com 800 mortos, 90% civis, destruindo infraestrutura econômica, área de universidade… […] Eles lutam por mudar o regime, pelo voto, por eleições, mas não destruindo o Irã”, destaca. O resultado, segundo ele, foi o fortalecimento da chamada “linha dura” do regime, favorável à continuidade e aceleração do programa nuclear iraniano.

Apesar da ausência de apoio direto de potências como China e Rússia, o professor vê que o Irã demonstrou capacidade de articulação regional. “Se articulou com o Hezbollah, com o governo da Síria, com a Rússia, com a China. Isso fez dele uma potência regional”, diz Nasser, destacando o papel geopolítico do país diante do cerco militar promovido pelos EUA desde as invasões do Afeganistão e Iraque.

No entanto, o especialista reconhece a perda de capacidade bélica de aliados do Irã, como o Hezbollah e o Hamas, enfraquecidos por ataques coordenados. “O Hezbollah perdeu a capacidade ofensiva. […] O Hamas luta para sobreviver. Os únicos restantes são os Houthis, que têm uma capacidade ainda muito importante, não foram duramente atingidos. O que se aventa é que há um acordo com a Arábia Saudita […] e em relação à situação de um cessar-fogo com o Irã”, indica.

Papel do Catar e o ineditismo de Trump

A mediação do cessar-fogo teve um personagem-chave ainda “em ascensão no Oriente médio”, conforme o professor: o Catar. “Um país minúsculo, mas com base americana, que abriga líderes do Hamas, se relaciona bem com Israel, EUA e Irã”, cita. O ataque a uma base americana no Catar foi, de acordo com ele, simbólico e previamente acertado com os cataris.

Nasser também se surpreendeu com a postura do ex-presidente dos EUA Donald Trump, que teria pressionado Israel pelo cessar-fogo. “Ele mencionou que Israel lançou uma grande quantidade de bombas no Irã depois do cessar-fogo. É inédito na política externa norte-americana [um presidente] se manifestar publicamente dessa forma em relação a Israel”, pontua.

Gaza e o impasse internacional

Sobre a situação em Gaza, Nasser acredita que só os Estados Unidos podem “parar Israel”. Segundo ele, mesmo diante de uma estimativa de 400 mil mortos, número citado em pesquisa recente da Universidade Harvard, organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU) permanecem impotentes. “A ONU é aquilo que as nações, e principalmente as grandes potências, querem que ela seja. Ela não tem a mínima condição. Os Estados Unidos seriam a peça principal”, diz.

Ele defende que o Brasil aja no cenário do conflito como líder de uma articulação internacional por ações concretas. “Sou favorável a que o Brasil rompa relações diplomáticas, econômicas, em todos os níveis com Israel, mas o Brasil não pode fazer isso sozinho. Defendo que o governo Lula se articule com outros Estados na América do Sul, no mundo árabe, e faça uma ação conjunta, no estilo do que foi feito com a África do Sul”, fala.

Apesar de condenações públicas de países como Alemanha e França, Nasser vê a atuação das potências ocidentais como inúteis. “Há muita hipocrisia nisso. […] Com Israel, os países falam duro e agem mansamente. Não adianta nada”, declara.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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