O avanço da extrema direita e a retórica anti-imigratória nos Estados Unidos, especialmente sob o discurso do presidente, Donald Trump, têm impactado outros países, inclusive o Brasil. É o que aponta o diretor do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC), Paulo Illes, em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Há um temor muito grande por parte das comunidades imigrantes. A comunidade brasileira é enorme nos Estados Unidos e foi duramente afetada”, afirma Illes. Segundo ele, até pessoas regularizadas no país passaram a ser ameaçadas diante do risco de retirada de direitos e da atuação repressiva da polícia migratória (ICE). “Trump sempre está ameaçando diminuir os direitos das pessoas que não nasceram nos Estados Unidos, inclusive das pessoas naturalizadas”, diz.
A disseminação desse discurso, especialmente com o “avanço inquestionável da extrema direita” e vindo de um país que se vende como “exemplo de democracia”, influencia políticas em outros continentes, inclusive na América do Sul, avalia o especialista. Ele cita o caso do presidente argentino, Javier Milei, que editou um decreto restringindo o acesso de imigrantes a serviços públicos, e um episódio no Brasil ocorrido nesta segunda-feira (16), na cidade de Serra (ES).
“No Espírito Santo, um deputado estadual e um vereador entraram na casa de famílias venezuelanas para perguntar se as pessoas tinham documentos”, denuncia. “O efeito desse discurso, desse modelo trumpista, vem afetando [as políticas migratórias globais]. Há parlamentares fazendo isso nos Estados Unidos, e agora no Brasil também há alguns políticos fazendo uma política semelhante à de Trump. Isso não podemos permitir”, protesta.
Retrocesso de décadas
Para o professor, o mundo vive hoje a transferência parcial das funções de controle migratório para países terceiros a fim de reduzir o fluxo de imigrantes e refugiados. “Há 20 anos, a fronteira, o muro era realmente no México. Depois ele vem descendo para a Guatemala, Costa Rica, Panamá e Colômbia. Hoje, esse muro já está no Brasil”, indica.
Illes lembra que a Constituição brasileira garante igualdade de direitos entre brasileiros e estrangeiros, e critica a criminalização da solidariedade e da migração, que já vinha sendo denunciada há ao menos duas décadas por movimentos sociais. Na sua avaliação, o Brasil é um exemplo de acolhimento a imigrantes e refugiados. “Migrar é um direito humano e precisamos defender isso, fazer uma contraposição a esse discurso da extrema direita que tem cada vez mais formado grandes bases nos congressos dos seus países”, clama.
Na contramão da retórica xenofóbica, o diretor do CDHIC destaca que os imigrantes têm papel essencial na sociedade e na economia. “Tem cidades no interior, tanto nos Estados Unidos, como na Europa, como no Brasil, onde hoje a mão de obra depende totalmente das pessoas imigrantes e refugiadas”, reforça. “É uma hipocrisia muito grande dentro dessa retórica de que os imigrantes não são necessários”, rebate.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
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