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Guerra entre Irã e Israel pode ter impacto direto no mercado do petróleo global

A guerra entre Irã e Israel pode ter um impacto expressivo para o mercado de petróleo global. Assim como foi no início dos ataques israelenses na Faixa de Gaza em outubro de 2023, países produtores e compradores de petróleo ligaram o alerta para possíveis mudanças no comércio internacional do produto. 

 

Isso porque a questão envolve o Oriente Médio, região com os principais produtores de petróleo no mundo. Hoje, os iranianos são responsáveis por produzir 2,7 milhões de barris de petróleo por dia, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

O país, no entanto, está bloqueado pelos Estados Unidos e não pode vender toda essa produção com os países que fazem negócio com empresas estadunidenses. Por isso, Teerã tem como principais compradores hoje russos e chineses.

Um dos principais fatores para o temor é em relação ao preço do produto. Se em março o barril chegou a ser vendido a 61 dólares, depois do início dos ataques israelenses contra o Irã o preço subiu para 72 dólares. Isso porque o preço da commodity está atrelada diretamente às regiões de extração e produção. Somente no dia do início dos novos conflitos, o preço do barril subiu 9%.

Outro fator que explica os temores dos agentes econômicos é a posição do Oriente Médio na distribuição do produto, especialmente pela proximidade do conflito com o estreito de Ormuz.

Miguel Jaimes é doutor em geopolítica petroleira e afirma que ainda há uma incerteza sobre os preços de acordo com o andamento do conflito. 

“O mercado de petróleo pode explodir a qualquer momento. Alguns analistas e asseguradoras afirmam que o preço do petróleo pode subir até 130 dólares e inclusive até 200 dólares. O Irã tem muitas cartas na manga. Uma delas é o estreito de Ormuz. Ali transitam diariamente 17 milhões de barris de petróleo dos 100 milhões que se consomem todo dia. Se há uma interrupção, as economias mais afetadas serão Europa e Estados Unidos”, disse ao Brasil de Fato.

Os temores de um choque nos preços do petróleo já eram discutidos desde o começo dos ataques israelenses na Faixa de Gaza. Agora, no entanto, um dos maiores produtores de petróleo e gás natural no mundo, o Irã, está envolvido no conflito.

O exército israelense também focou seus ataques em estruturas energéticas iranianas. A principal delas é a South Pars, que ocupa um terço da maior reserva de gás natural do mundo. Para o professor de economia com foco no mercado petroleiro nas Faculdades de Campinas (Facamp), José Augusto Gaspar Ruas, esse é um conflito que pode ter um impacto nos preços. 

Ele afirma, no entanto, que há dois fatores importantes que devem ser considerados para que os agentes tenham uma expectativa de manutenção de uma estabilidade no mercado petroleiro. Primeiro porque, neste momento, há uma tendência de arrefecimento do conflito, situação que joga um sinal positivo para os empresários que trabalham com o petróleo e segura os preços.

Em segundo lugar, as sanções econômicas dos Estados Unidos contra o Irã limitaram o alcance e a penetração do petróleo iraniano ao redor do mundo, o que isolou Teerã e faz com que a guerra possa ter impactos reduzidos nesse sentido. 

“Na semana passada os preços responderam rapidamente, com aumentos significativos. Estávamos vendo uma queda nos preços, mas imediatamente voltaram ao patamar do começo do ano. Além da desescalada possível, o Irã está muito isolado, o que limita os impactos econômicos desses ataques israelenses. Mesmo atacando alguns campos importantes  para a produção de gás natural, a conexão é pequena para a oferta global”, disse ao Brasil de Fato

Para o sociólogo e mestre em comunicação política Franco Vielma, com ataques israelenses sistemáticos contra instalações energéticas, é possível haja impacto no reordenamento do mercado petroleiro, já que chineses e russos compram petróleo iraniano e teriam que buscar outras fontes. 

“Os impactos serão maiores se as instalações energéticas forem afetadas. Claro que o Irã tem mais a perder porque é um dos maiores produtores do mundo. Israel tem um potencial destrutivo maior, mas isso tudo depende da escalada do conflito. Até agora não houve danos significativos que comprometam a exportação de petróleo. Mas o Irã tem no radar fechar o estreito de Ormuz, o que, isso sim, comprometeria o abastecimento de energia global”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.

Para os compradores de petróleo, a principal preocupação é a diversificação das fontes. Ainda que o Irã esteja bloqueado pelos Estados Unidos, a tendência é que haja uma nova configuração do mercado petroleiro conforme a tensão na região escale. 

Impactos na América do Sul

Um dos atores interessados no cenário global do petróleo é justamente os Estados Unidos. O país busca controlar o mercado petroleiro global por meio de sanções contra produtores importantes como Irã e Venezuela. Washington comprava petróleo venezuelano até o mês de maio, quando proibiu a atuação da petroleira Chevron no país. 

Agora, para Jaimes, pode ser que a Casa Branca tenha que voltar atrás e negociar com a Venezuela novas licenças para a produção e venda de petróleo aos EUA. 

“Aqueles que buscaram controlar a indústria petroleira venezuelana agora vão buscar a forma de poder negociar com ela. Venezuela tem muitos mercados, sobretudo o asiático, mercados que para a Venezuela são novos e que vem trabalhando nas últimas décadas. Pode ser que nos próximos dias os próprios Estados Unidos flexibilizem as sanções contra o petróleo venezuelano. A situação estadunidense interna é de muita volatilidade e muito delicada e talvez precise abrir os mercados petroleiros”, afirmou.

 

Com a sinalização de uma trégua proposta pelo próprio Irã na última segunda-feira, os preços caíram 1%. A tendência agora é que novos mercados abram para países bloqueados como a própria Venezuela.

Para os venezuelanos, outra vantagem está no próprio aumento de preços. Mesmo bloqueado, o país busca parceiros que busquem petróleo para comprar a partir da triangulação, driblando as sanções. Isso faz com que o petróleo venezuelano seja vendido com desconto especialmente ao mercado asiático. 

Com o aumento dos preços do barril, o preço do petróleo vendido neste mercado encoberto também sobe, o que aumenta a entrada de dólares para os venezuelanos. Para Jaimes, os venezuelanos que hoje produzem 1 milhão de barris por dia poderão aumentar ainda mais a produção. 

“Os produtores fazem cotações do petróleo imediatas e para o futuro porque os preços mudaram de maneira significativa. Tudo aponta para que mais países busquem petróleo venezuelano.  O problema da Venezuela não é chegar a 2 milhões de barris de petróleo por dia. Já batemos uma meta importante de 1 milhão de barris diários. A questão agora é como retomar a sua indústria petroleira a partir das nossas alianças”, afirma

Relação entre Venezuela e Irã

Depois que as sanções contra a Venezuela aumentaram, a partir de 2016, os iranianos ajudaram a remontar toda a infraestrutura petroleira venezuelana com base na experiência dos 45 anos de bloqueio que o mercado do petróleo iraniano vive. A indústria ligada ao petróleo no Irã não foi construída pelos EUA, mas pelo Reino Unido e por países ocidentais. 

Com a revolução iraniana de 1979, a Europa Ocidental e os Estados Unidos bloquearam a economia de Teerã. O país já era uma das principais lideranças da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) naquela época e precisaram criar ferramentas e estratégias para driblar o bloqueio e manter o protagonismo no cenário energético internacional.

Para Ruas, esse é o impacto negativo que pode ser sentido pelos venezuelanos, já que o país depende da tecnologia iraniana para manter a estrutura da estatal petroleira PDVSA.

“Se subir o preço do petróleo, é bom para a Venezuela. No entanto, o Irã é um agente que ajuda a Venezuela não só a driblar as sanções, mas também na manutenção de equipamentos”, concluiu 

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