Uma audiência pública na Assembleia Legislativa tratou da saúde mental e adoecimento de trabalhadores. Ela é preparatória para a 5a Conferência Nacional dos Trabalhadores de Saúde. Especialistas apontaram para o adoecimento de trabalhadores na rede privada e pública. A Secretaria Estadual de Saúde (SESA) não enviou representante à discussão. O tema do encontro na Alep é “Saúde é um direito humano”.
O médico especialista da Associação Médica do Brasil (AMB), Zuher Handar, abordou o tema da audiência a partir da perspectiva das políticas públicas do Estado e municípios. Para ele, é um momento de avaliação da saúde do estado e dos municípios. Ele lamentou que o secretário de saúde do Paraná, Beto Preto, não compareceu ao evento para tratar de políticas públicas de saúde.
“Eu faço um apelo aos parlamentares: que além das audiências, se aumente a cobrança com relação ao tema saúde do trabalhador. Nós não sabemos que políticas estão sendo desenvolvidas. O que está sendo implementado, onde tem, quantos municípios têm desenvolvido a saúde do trabalhador em suas unidades básicas, onde está indo o dinheiro que vem do Governo Federal”, questiona o especialista, que complementa: “a saúde do trabalhador é viabilizada pelo Sistema Único dos Trabalhadores e não pelas empresas”.
De acordo com o Ministério da Previdência, doenças relacionadas a dores na coluna lideraram o ranking de adoecimento, com 205,1 mil benefícios. No ano passado, foram liberados 3,5 milhões de afastamentos. “Os municípios e os médicos não estão preparados para identificar as doenças do trabalho. Eles identificam a enfermidade, mas não apontam a origem”, alerta Zuher Handar.
Outra palestrante do evento, a professora do Departamento de Sociologia da UFPR, Mariana Bettega Braunert, participa de um grupo de pesquisa relacionado ao mundo do trabalho. Segundo ela, é perceptível o adoecimento mental, com destaque a trabalhadores que lidam com tecnologia.
“Um modelo flexível de produção e o Toyotismo, na década de 1970, trouxe a cobrança e cumprimento de metas. O modo foi implementado em diversas áreas do trabalho. Detectamos que o stress faz parte do mecanismo de gestão. As empresas adotam modelos adoecedores como o assédio moral organizacional. A prática de gestão é assediante”, mapeia a palestrante, reforçando que o trabalho temporário e intermitente colaboram para o adoecimento.


Paraná em ranking negativo
Proponente da audiência pública, a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT) destacou a importância do evento para o debate sobre saúde pública. “Esse é um momento de construção de políticas públicas para que possamos ter um trabalho mais digno e seguro, com respeito e segurança para todos os trabalhadores”, reforçou a parlamentar.
Luciana trouxe dados relativos à saúde dos trabalhadores. Segundo ela, em 2024, “o Paraná ocupou a quarta posição no ranking nacional com mais acidentes de trabalho. Foram registrados mais de 51 mil acidentes de trabalho graves. Foram emitidos mais de 12 mil atestados, licenças médicas por problemas mentais. São números que nos assustam muito”, lamenta.
Já a presidente da APP Sindicato, Walkiria Mazeto, destacou que os trabalhadores públicos têm adoecido cada vez mais. “Nós chegamos a um patamar que a exploração de dá por metas e objetivos humanamente impossíveis. Na iniciativa privada, isso é perceptível quando se estabelece metas concretas, como quantidade de produção de carros. No serviço público, na educação, as metas não são palpáveis. Hoje, para que o Paraná fique em primeiro no IDEB, ele forja os números e nós, profissionais, somos obrigados a forjar presença, dar nota, não podemos reprovar estudantes, a adotar aplicativos que de nada colabora para a educação”, listou a presidente.
Ela apresentou uma denúncia contra a Secretaria de Educação do Governo do Paraná que está sendo entregue à Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Solicita-se que examine a denúncia, instaure procedimentos cabíveis, acione governos do Paraná e do Brasil, e que influencie o governo estadual para a adoção de medidas corretivas”, diz o documento assinado por centrais sindicais.
Política de retirada de direitos
Durante a audiência pública, o deputado estadual Professor Lemos (PT) destacou como o sistema liberal tem pressionado o estado para retirar direitos dos cidadãos, atacando recursos da saúde, por exemplo. Na avaliação de Lemos, os governos liberais têm feito reformas que precarizam o trabalho.
“Primeiro foi a Reforma Administrativa. Se fez aprovar a terceirização de modo escancarado. Retirou muitos direitos da classe trabalhadora. Em seguida, veio a reforma da previdência. Piorou as condições de trabalho. Elas são muito piores do que antes. E aí, o adoecimento da classe trabalhadora. Acidentes de trabalho que vão aumentar. Também aumenta outras doenças”, disse o deputado, que defendeu o fim da escala 6 por 1.
O deputado federal Tadeu Veneri (PT) abordou as consequências para a saúde dos trabalhadores, gerando acidentes de trabalho. Ele comentou também o adoecimento de profissionais da segurança pública e privada. Para ele, não há estado democrático sem democratização da segurança pública.
“São justamente os trabalhadores de segurança pública que mais sofrem. Nessas conferências, são vistos e se sente muitas vezes à parte da relação com os trabalhadores. Se nós pegarmos hoje, policial penal, policial militar, os bombeiros, especificamente, esses quatro. Claro que há também a segurança feita por empresas privadas. Eu acompanho isso na Câmara Federal, o nível de violência, nível de doença mental e o nível de pessoas afastadas”, apontou.
Principais causas de adoecimento dos trabalhadores
As principais causas de adoecimento relacionadas ao trabalho envolvem tanto fatores físicos quanto psicossociais, e variam de acordo com o tipo de atividade, condições laborais e ambiente organizacional.
- Causas psicossociais
- Causas ergonômicas
- Causas físicas e ambientais
- Causas físicas e ambientais
- Acidentes de trabalho
:.. CONFIRA COMO FOI A AUDIÊNCIA PÚBLICA
O que é a Conferência
5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT), organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e promovida pelo Ministério da Saúde. Entre os objetivos da conferência está a possibilidade de debater, propor e deliberar propostas e linhas de ação para fortalecer uma política pública que repercute na efetivação do acesso à saúde no SUS. A Etapa Nacional ocorre de 18 a 21 de agosto de 2025.
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