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Exposição ‘Memória, Orgulho e Identidade’ reforça reconhecimento das tradições afro-gaúchas no RS

O Rio Grande do Sul é o estado que tem mais casas de terreiros no país, chegando próximo a 65 mil, conforme levantamento do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do RS (CPTERGS). Com o objetivo de promover informação, cultura, respeito e reconhecimento das tradições afro-gaúchas, o projeto “Memória, Orgulho e Identidade” percorreu seis casas de religiões de matriz africana, em Passo Fundo e Carazinho, reunindo dados que agora podem ser vistos em uma exposição fotográfica itinerante.

 

A abertura oficial da mostra será nesta terça-feira (17), às 18h, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (MAVRS), em Passo Fundo. Dedicado a valorizar a memória, a ancestralidade e a identidade dos povos de terreiro do norte do Rio Grande do Sul, o evento tem entrada gratuita, acessibilidade e poderá ser visitado até 17 de julho. Após a data, a exposição segue para outras cidades do estado, como Marau, Erechim, Carazinho e Palmeira das Missões.

 

Além da mostra fotográfica, a iniciativa também desenvolveu um glossário com termos afro-brasileiros que será distribuído em escolas de ensino público dos municípios percorridos pela exposição. O documento conta ainda com uma introdução escrita a partir da pesquisa dos historiadores Abner Lopes e Marina Perger. Também foram produzidos materiais para as redes sociais do projeto, voltados à educação e ao combate à intolerância religiosa.

Espiritualidade e diálogo

A exposição dá voz e protagonismo às pessoas fotografadas e entrevistadas nos terreiros, valorizando suas trajetórias, vivências e saberes. É o caso de Mãe Carmem Holanda, mãe de santo, educadora e referência sobre os povos de matriz africana em Carazinho. “‘Memória, Orgulho e Identidade’ fala muito sobre o projeto: é a memória dos povos de matriz africana, o orgulho dessas memórias guardadas dentro dos porões dos navios negreiros, das senzalas, dos barracões, e que resistem nos nossos terreiros e espaços sagrados até hoje”, comemora.

Segundo Mãe Carmem, a exposição, com fotos, falas e pesquisa, é “fundamental” para mostrar à sociedade a realidade do fazer cultural e religioso do povo de matriz africana. “A nossa forma de chegar a Deus, de cultuar a vida e a natureza através dos cânticos, danças, rezas e dialetos que resistiram e seguem vivos nos nossos cultos”, explica.

Para Alexandre Vieira, filho de santo e um dos delegados eleitos na Conferência Municipal dos Povos de Terreiro de Passo Fundo, o projeto reforça a importância do diálogo. “A gente precisa falar sobre as religiões para as pessoas não terem medo e agirem de maneira errada.”

Segundo ele, o pai de santo e a mãe de santo que abrem a casa não fazem por vaidade. “Eles estão se colocando à disposição do outro, oferecendo sua energia, tempo e casa para ajudar quem precisa. Tendo essa exposição, esse trabalho de registrar essas casas e seus saberes, acredito que muitas pessoas vão passar a questionar, buscar, conhecer — e talvez até participar”, destaca.

Fotografia como memória viva

As imagens foram produzidas pelo fotógrafo e documentarista Diogo Zanatta. Desde 2011, ele participa de exposições coletivas e individuais, tendo sido premiado pelo trabalho desenvolvido em fotojornalismo e projetos sociais. Zanatta integra coletivos de arte e fotografia e também atua com oficinas educativas e ações de memória no Rio Grande do Sul.

“A fotografia precisa comunicar, emocionar e manter vivas as memórias desses lugares. As imagens carregam uma força simbólica e constroem uma ponte com o público que vai visitar a exposição. Nosso compromisso é com a escuta, com o respeito e com a construção coletiva dessas narrativas”, destaca o fotógrafo.

Realizado pela Skopo Media, o projeto tem financiamento do Pró-Cultura RS, da Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e Ministério da Cultura.

A ação foi construída por uma equipe interdisciplinar, que esteve nos terreiros ouvindo a história, registrando as práticas, colhendo elementos simbólicos e documentando a força dessas comunidades, como afirma a historiadora, produtora executiva e curadora da exposição, Patrícia Vivian.

Segundo ela, lançar um projeto como esse, em cidades do interior, é um ato de resistência. “As religiões de matriz africana foram historicamente silenciadas. Esse projeto busca dar visibilidade e dignidade a esses territórios de fé, onde a ancestralidade e a coletividade se manifestam com muita força”, conclui.

Serviço

Exposição itinerante “Memória, Orgulho e Identidade”

Abertura: 17 de junho, às 18h

Localização: Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (UPF – Prédio D3) – Universidade de Passo Fundo, BR 285 Km 292,7 | Campus I, Bairro São José. Passo Fundo (RS)

Visitação: até 17 de julho

Entrada gratuita

O evento conta com acessibilidade.

 

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