

Alvinegro e alviverde escreverão capítulo sob olhares do mundo no próximo sábado Quando a bola rolar na tarde do próximo sábado para Palmeiras e Botafogo, em partida válida pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes, estará em jogo mais do que uma vaga na próxima fase da competição. Trata-se de um possível divisor de águas na percepção sobre o confronto, hoje ainda tido como um enfrentamento entre dois gigantes do futebol brasileiro, mas não com o peso de um clássico, segundo analista e torcedores ouvidos pela reportagem.
A visibilidade do novo torneio internacional e a impossibilidade que ele traz de uma revanche imediata, dados os muitos fatores que envolvem uma classificação para disputá-lo, ajudam a explicar a iminente escalada do duelo. Soma-se a isso a rivalidade recente entre os times, estimulada por uma virada histórica, revanche e jogaços, e a equação da mudança de prateleira em curso pode estar completa.
Há quem entenda que isso não é tão simples quanto parece. No Brasil, os antagonismos sempre foram alimentados pelos confrontos locais. Tanto que os principais embates são os emblemáticos Fla-Flu, Gre-Nal e o Derby Paulista, entre Corinthians e Palmeiras. As rivalidades regionais, no entanto, costumam ser mais sazonais.
— É uma categoria volátil. Na década de 1960, Botafogo x Santos era o maior jogo nacional. Mas é a frequência que faz um clássico. A rivalidade entre Palmeiras e Botafogo é recente demais e depende muito da performance deles nos próximos anos — avalia Flávio de Campos, professor da pós-graduação em História Sociocultural do Futebol na Universidade de São Paulo (USP).
Para ele, a explicação pode vir também da morfologia da palavra “rivais”, que vem do latim rivales, aqueles que habitam as margens do mesmo rio. Por isso, o especialista acredita que a rivalidade é maior quanto maior a proximidade. Está assentada nas disputas da mesma cidade.
Números do duelo
O influenciador Daniel Braune segue uma linha de raciocínio semelhante. Ele diz que as realidades construídas ao longo de diferentes contextos, que já alçaram Atlético-MG x Flamengo e Corinthians x Internacional ao epicentro dos embates, é onde mora o duelo entre o alvinegro e o alviverde.
— Existem equipes em alto nível de competitividade que entrelaçam suas histórias por um determinado período de tempo. Não diria que é um clássico, porque os clássicos são lineares. A junção de momento e histórico faz Botafogo x Palmeiras estar um clássico — pontua.
Botafogo fez 3 a 1 no Palmeiras
Vitor Silva/Botafogo
Botafoguense, Braune manifestou certo alívio por escapar de uma disputa direta com os arquirrivais Flamengo e Fluminense. A preferência por um duelo com o alviverde ilustra bem que nem mesmo o fato de ambos terem se digladiado nos últimos dois anos — tanto no Campeonato Brasileiro quanto na Libertadores — foi capaz de acender uma chama maior na rivalidade.
— O 3 a 1 no Allianz Parque (no segundo turno do Brasileirão de 2024) é o início de uma extravagância com três décadas de peso, um foguete que leva o Botafogo ao paraíso. Desde então, o botafoguense se sente confiante nos confrontos com o Palmeiras — define. — Estaria muito mais tenso em fazer um clássico estadual. É outro sentimento. Prefiro pegar o Palmeiras mesmo. Não vejo essa partida com um grau de tensão do mesmo nível.
Do lado palmeirense, a percepção é a mesma. Mesmo reconhecendo o momento de ápice no encontro entre os times, o jornalista e torcedor Rodrigo Barneschi afirma que é preciso mais tempo.
— Vejo que a rivalidade mais pesada, além das com Corinthians, São Paulo e Santos, é com o Flamengo. Não coloco o Botafogo nessa escala. E isso não tem nada a ver com a grandeza do clube. Mas a emoção está mais ligada à dimensão dos jogos do que ao adversário em si. Isso difere de um jogo comum contra o Flamengo — reflete Barneschi, que, ao longo do Mundial, assina a coluna “On Tour” dedicada ao Palmeiras, no GLOBO.
Nos últimos dez confrontos entre as equipes, a vantagem, mesmo que mínima, é dos cariocas. O Botafogo tem quatro vitórias, contra três triunfos do Palmeiras e dois empates. Já quando o assunto é balançar as redes, os paulistas largam na frente, com 15 gols no duelo, contra 13 do rival.
A última exibição, válida pela primeira rodada do Brasileirão deste ano, em março, terminou sem que os times tirassem o zero do placar. Em jogo disputado na casa do alviverde paulista, o clube de General Severiano foi superior, tendo ao menos três chances claras de gol. O encontro ainda marcou a estreia do português Renato Paiva no comando do alvinegro.
Ao considerar os títulos conquistados nos últimos dois anos, a liderança é do elenco de Abel Ferreira. Bicampeão paulista, campeão brasileiro e da Supercopa do Brasil em 2023, a equipe levantou uma taça a mais que o Botafogo. Superando um longo jejum, o alvinegro conquistou o Brasileirão e a inédita Libertadores no período.
O mais curioso é que, há mais de duas décadas, em 2003, esses mesmos times tinham como maior preocupação subir para a Série A. E, nas tantas voltas que o mundo dá, hoje disputam um degrau a mais na briga pelo topo da pirâmide da bola.
*Estagiário sob supervisão de Thales Machado