
Atriz relembra perrengues financeiros e exalta o pai: ‘Trabalhava em dois empregos e nunca deixava faltar comida na mesa’ Não há tempo ruim para Daniela, a jovem esforçada de “Vale tudo”. A estudante de Direito chegou a ajudar Raquel (Taís Araujo) na época em que ela vendia sanduíches na praia e, agora, tira uma grana como motociclista de aplicativo. Assim como sua personagem, Jessica Marques teve várias profissões até poder viver do ofício de atriz. A artista, de 25 anos, já vendeu brigadeiros na praia, distribuiu panfletos na rua, fez bonecas de biscuit, foi manicure, operadora de telemarketing… E estava tudo certo para cursar Nutrição.
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A baiana chegou a fazer vestibular, mas não passou. Quis o destino que Jessica virasse artista, mesmo sem ela cogitar seguir a profissão.
— A arte chegou sem querer, mas era para ser. Eu queria fazer Nutrição porque teria estabilidade financeira, trabalharia em hospital, perto do meu pai (Carlos Eduardo, contador de uma unidade de saúde). Mas, quando falei pra minha professora que investiria nessa área, ela disse que eu estava errada, que deveria apostar em arte. Fiz um curso de uma semana no Sesc para me preparar para o vestibular e passei em Teatro (em 2017). Não tinha noção de nada. Foi na faculdade que me entendi como atriz. Não me imagino mais fazendo outra coisa — afirma a jovem, que estreou em novelas com “Vale tudo”, após interpretar Larissa na série “Justiça 2” (2024), também na Globo/Globoplay.
Feliz com as oportunidades na TV, Jessica conta que percorreu um caminho de incertezas.
— Minha infância foi muito boa, no sentido de receber afeto. Tive um pai presente, uma realidade diferente da maioria das pessoas. Apesar de ele ter se separado da minha mãe (Rosemary) quando eu tinha 4 anos, sempre estava lá para me ajudar e incentivar, mesmo com poucos recursos financeiros. Minha mãe era dona de casa e não teve tantas oportunidades na vida. Meu pai foi a figura do herói para mim, porque ele trabalhava em dois empregos e nunca deixava faltar comida na mesa. Hoje, quero retribuir, aposentar meu pai e dar uma qualidade de vida melhor para minha família (ela ainda é irmã de Ney). Hoje, temos uma casa própria, mas antes era um barraco de madeira, que ficava no caminho de uma comunidade de Salvador — detalha.
Jessica Marques, a Daniela de ‘Vale tudo’, em ensaio exclusivo para a Canal Extra
Guilherme Lima
Jessica se emociona ao falar da mãe, que morreu há quase quatro anos. As lembranças são de muito carinho e devoção.
— Não se sabe exatamente o motivo da morte, ela ficou muito doente de forma repentina. Morreu com 35kg, muito magra, ficou muito mal. Não tínhamos condições financeiras para pagar um hospital particular a fim de fazer os exames corretos. Fomos levando de UPA em UPA até alguma decidir interná-la. Um descaso! Quando a aceitaram, ela estava muito debilitada, não estava conseguindo comer — desabafa a atriz.
Uma médica suspeitou de câncer, mas o diagnóstico não se confirmou, porque Rosemary não chegou a fazer os exames. Foi uma infecção generalizada que a levou embora.
— Foi o momento mais triste da minha vida. Fiquei na dúvida sobre o que fazer. Queria ter tido a condição de levá-la a um hospital particular, sabe? Se eu tivesse o dinheiro que eu tenho hoje, eu teria feito isso por ela. Me senti mal. Minha mãe era a alegria da casa. Depois que ela faleceu, todo mundo morreu um pouquinho com ela — lamenta.
Inspiração
Jessica Marques, a Daniela de ‘Vale tudo’, em ensaio exclusivo para a Canal Extra
Guilherme Lima
Atualmente moradora da Barra, na Zona Oeste do Rio, Jessica virou inspiração para outras meninas pretas. A atriz lembra que não havia referências de artistas negras na TV quando ela era criança.
— Recebi uma mensagem nas redes sociais que me marcou muito. Uma menina falou que eu estava representando “muitas pretinhas da pele escura na televisão”. Nunca me imaginei nesse espaço. A gente não se via na TV, principalmente mulheres negras retintas. Muito menos em espaços que a minha personagem ocupa como estudante de Direito. Antes, os negros não eram representados dessa forma. Graças a Deus, a gente está vendo essa evolução. Temos personagens em várias posições sociais. Isso é tão bonito, rico… Sempre que vou à praia, vejo um ou outro me observando. As pessoas ficam: “Eu conheço você, eu conheço você” (risos) — diverte-se ela, que hoje desperta curiosidade por estar no horário nobre da Globo.
Mas os olhares em sua direção já foram bem mais duros:
— A minha família é de negros retintos. Então, esse tema era abordado sempre. Os mais velhos falavam para a gente andar limpinho, passar creme hidratante, não dar ousadia para quem falasse algo. Sou preta do cabelo crespo, da boca carnuda… Tenho traços muito fortes, e tudo isso era motivo de piada na escola. Diziam que eu era feia, que parecia uma macaca, que minha boca era enorme. Negros de pele mais clara também falavam coisas esdrúxulas. Naquela época, ainda não existia essa conscientização racial. Eu ainda sofria bullying por ser magra demais. Era o caos.
Jessica Marques, a Daniela de ‘Vale tudo’, em ensaio exclusivo para a Canal Extra
Guilherme Lima
Nos próximos capítulos de “Vale tudo”, Daniela vai se aproximar de Luciano (Licínio Januário), assessor de Ivan (Renato Góes) na TCA.
— Eles vão ficar encantados um pelo outro. É bonito, porque são dois pretinhos retintos amando. É gostoso contracenar com ele. Que bom ator! Não sei se vai durar até o fim da novela, mas que Daniela vai ter um “trelelezinho”, vai… — adianta.
Momento de solteirice
Na vida real, Jessica não pensa em se relacionar com alguém por agora.
— Estou solteira, disponível, mas os cariocas são muito marrentos, não chegam nas meninas. Não tenho paciência (risos). Aí fico com preguiça. O que rolar rolou, mas não estou à procura. Não estou saindo. Não sou de festa, tenho uma alma de idosa. Gosto de dormir cedo, odeio ficar de salto alto por muito tempo… Sou antissocial — afirma a libriana, que já teve um relacionamento de sete anos quando morava em Salvador: — Estou há um ano e meio solteira, reaprendendo. Por isso que eu estou preguiçosa. Eu me mudei de Salvador em 2024 para priorizar o meu trabalho, aí ficou difícil manter. Não funciono com relacionamento a distância.
Créditos
Texto: Thomaz Rocha
Edição: Camilla Mota
Fotos: Guilherme Lima @guilhermelima
Produção executiva e styling: Samantha Szczerb @samantha_szczerb
Beleza: Michel Sampaio @michelsampfe
Agradecimentos: Hotel Pestana @pestanahotelatlantica, Àrsie @usearsie e Azulay @azulayacessorios
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