

Faltando apenas 11 dias para o novo bilhete eletrônico ser obrigatório para os passageiros com gratuidade nos transportes municipais, usuários relatam madrugadas sem dormir, falhas no sistema e dificuldades para obter o benefício Faltando menos de duas semanas para que o cartão Jaé se torne obrigatório para garantir a gratuidade nos transportes municipais do Rio, uma corrida desesperada tomou conta dos postos de atendimento. Os idosos são maioria nas longas e demoradas filas, muitos sem familiaridade com tecnologia ou cansados da espera por respostas via aplicativo. A busca pelo novo cartão tem começado ainda de madrugada e, muitas vezes, sem sucesso. Às 6h, uma hora antes do início do atendimento, cerca de 100 já estavam ma umidade de Madureira.
Cartão Jaé: confira postos e horários para atendimento, com lista atualizada
Na busca pelo Jaé: Após caos nas filas, três superpostos e ampliação no horário de lojas são anunciados pela prefeitura
Às 2h30 desta terça-feira, Maria do Carmo Cotrim, de 67 anos, saiu de casa em Anchieta, na Zona Norte, decidida a ser a primeira da fila no posto de atendimento de Jaé de Madureira. Quando chegou, ainda estava escuro.
— Eu nem dormi. Vim virada, cheguei com tudo escuro, às três da manhã. Uso muito esse cartão, sempre venho comprar meus produtos de trabalho — contou a artesã, que ficou até as 6h esperando sozinha perto de um guarda do BRT, com medo de ficar vulnerável na estação.
Maria de Lourdes Dias (ao centro), de 74 anos, buscou atendimento no posto do Jaé em Madureira
Fabiano Rocha / Agência O Globo
Às 6h, cerca de 100 idosos já haviam se juntado a ela. A fila começou a andar apenas às 7h. Ao seu lado, a segunda da fila era Edna Maria Barbosa, de 65 anos. Ela convenceu o filho a acompanhá-la até o ponto de ônibus, em Marechal Hermes, às 4h30, para garantir que chegaria cedo ao posto.
— Acordei ele cedo pra não vir sozinha. Só assim me senti segura — disse ela, que ainda tentava concluir o cadastro.
A ida desesperada aos postos pode parecer exagerada, mas para quem depende do benefício, é uma questão de necessidade.
O que vai valer? Veja as respostas para as principais dúvidas dos passageiros sobre o Jaé, novo sistema do transporte municipal
Agasalhada e com o marido ao lado, Maria de Lourdes Dias Nogueira, de 74 anos, tentava, pela terceira vez, realizar o cadastro. Segundo ela, na segunda-feira, enfrentou seis horas de fila — das 9h às 15h — apenas para ouvir que o sistema havia caído.
— Ontem fui embora depois de seis horas nessa fila. Hoje acordei às 4h da manhã e vim de Realengo. Meu marido tem Alzheimer, já não consigo pagar os remédios, quanto mais passagem. Isso aqui é desumano e humilhante. A gente chega a essa idade e tem que passar por isso — desabafou.
Apesar da possibilidade de solicitação pelo aplicativo, muitos idosos relatam não saber usar a ferramenta ou não ter recebido o cartão mesmo após meses de espera. Há casos de quem pediu o Jaé em janeiro e ainda não teve retorno. Por isso, para boa parte dos usuários, a ida presencial é a única saída.
‘Cadê meu cartão?’
Além dos que buscam emitir ou retirar o Jaé, há também quem vá aos postos apenas em busca de uma resposta. Casos de cartões extraviados ou nunca entregues são comuns, mesmo quando o pedido foi feito corretamente pelo aplicativo.
Demorci Ávila do Nascimento, 72 anos, na fila do atendimento do posto do Jaé em Madureira
Fabiano Rocha / Agência O Globo
Demorci Ávila do Nascimento, de 72 anos, é um dos que continuam sem o benefício.
— Pedi meu cartão pelo app em janeiro, com a ajuda da associação de moradores. Em março, me disseram que ele havia sido extraviado e que eu precisaria pagar R$ 40 pela segunda via. Paguei, mas até agora não chegou. Não vim aqui nem para cadastro, nem para retirada, vim saber onde está o meu cartão. Dizem que é gratuito, mas eu fui cobrado por algo que não foi erro meu — reclamou.
Às 6h, mais de 100 idosos já estavam na fila. Sem cadeiras, muitos se apoiavam nas paredes ou tentavam se acomodar de pé. Às 6h40, o cenário começou a mudar: bancos de plástico e caixas de água foram levados para o local, em um esforço de última hora para tornar a espera um pouco mais confortável, um contraste com o que se viu na última semana, marcada por longas filas e pouca estrutura para os usuários, com casos de pessoas passando mal.
Na segunda-feira, o vice-prefeito Eduardo Cavaliere e a secretária de Transportes do Rio, Maína Celidonio, pediram desculpas pelas grandes filas e prometeram “corrigir o percurso”. Entre as principais medidas anunciadas estão a ampliação dos postos, a criação de novos superpostos e a extensão do horário de atendimento, que agora passa a funcionar de segunda a sábado, das 7h às 19h. Confira aqui todas as informações sobre os postos.