Análise aponta resistência do Congresso à justiça tributária e apoio a cortes na saúde e educação
A decisão do Congresso de rejeitar o aumento do IOF mostra mais do que uma derrota pontual do governo: revela a recusa em taxar os mais ricos e a preferência por cortes em saúde e educação.
A derrubada do decreto do governo Lula (PT), que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), foi aprovada rapidamente nesta quarta-feira (25). Para o jornalista e analista político Igor Felippe Santos, a votação escancara a resistência do Legislativo às propostas de justiça tributária e a tentativa de impor uma agenda focada em cortes sociais.
“O Congresso está dizendo que não aceita a saída apresentada pelo governo para garantir o cumprimento do arcabouço fiscal. […] Na verdade, o Congresso quer é que o governo corte os investimentos em saúde e educação, e não admite que os mais ricos, privilegiados pelo sistema tributário, paguem mais impostos”, avalia.
Segundo Igor, os decretos anulados não afetavam a maioria da população. Eles incidiam sobre operações como câmbio, seguros e investimentos — atividades realizadas principalmente por setores de alta renda e que atingiriam apenas 1% da elite econômica. Assim, ao recusar a medida, o Congresso escolheu não taxar os mais ricos.
Congresso se recusa a taxar os mais ricos e protege privilégios
Igor Felippe lembra que o governo Lula tem apostado no aumento da arrecadação através da taxação de grandes fortunas, milionários e bilionários, como alternativa ao corte de verbas em áreas essenciais. No entanto, parlamentares da oposição insistem em uma lógica seletiva de austeridade.
“Os próprios deputados aprovaram, na mesma noite, um projeto que aumenta o número de parlamentares. Ou seja, haverá aumento de gastos”, critica.
Além disso, o analista desconstrói o discurso de que todos pagam muitos impostos no Brasil. Ele explica que trabalhadores e setores médios arcam com a maior carga tributária, enquanto os mais ricos — grandes empresários, banqueiros e investidores — são os que menos pagam impostos.
“Se os de cima pagarem mais, quem está embaixo pode pagar menos”, resume.
Sem pressão popular, Congresso seguirá rejeitando justiça tributária
Do ponto de vista político, Igor relativiza a tese de enfraquecimento do governo Lula. Para ele, o que existe é uma maioria conservadora no Congresso, e um pacto implícito que pressiona o Executivo a seguir a agenda da direita.
“O governo pode manter sua base se aplicar o programa da direita. É isso que Hugo Motta e Davi Alcolumbre estão dizendo”, aponta.
Por isso, ele defende a mobilização popular. Sem o apoio da sociedade às medidas de taxar os mais ricos, o governo permanecerá refém de um Congresso que rejeita mudanças estruturais.
“Se o governo continuar refém dessa situação, será forçado a aplicar medidas contrárias ao que foi prometido. E isso terá impacto nas eleições de 2026.”
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