Home / Celebridades / Carol Castro fala sobre o sucesso em ‘Garota do momento’, após fase difícil na vida pessoal: ‘Precisava da Clarice para me reerguer’

Carol Castro fala sobre o sucesso em ‘Garota do momento’, após fase difícil na vida pessoal: ‘Precisava da Clarice para me reerguer’

 

Antes da novela, ela desistiu de papel no teatro ao enfrentar luto e problemas físicos; agora, obtém o reconhecimento como atriz dramática: ‘Cuidei para que a emoção não caísse no chororô’ No banheiro de casa, Carol Castro conserva um banquinho que adotou no início de 2024, depois que rompeu os ligamentos e lesionou o menisco do joelho esquerdo. No pós-operatório, o objeto suportava o peso de seu corpo no banho. Desde que ela começou a interpretar Clarice, em “Garota do momento”, o utensílio foi apelidado com o nome da personagem e passou a servir à atriz como apoio para a higiene mental.
— É um banquinho de plástico, que pode ser molhado. Não uso mais por causa do joelho, e sim pelo cansaço pós-gravações. Quando chego esgotada, é debaixo d’água que eu me curo — diz a pisciana, de 41 anos, contando: — No auge do verão, os banhos eram gelados. Agora, são quentinhos, seguidos por um chá e um escalda-pés para relaxar.

 

As sessões de terapia, iniciadas há oito anos — quando se tornou mãe de Nina, sua única filha —, prosseguem. Nelas, a atriz também analisa as consequências de Clarice em sua própria pele.
— O cérebro não sabe que os desgastes físicos e emocionais das cenas não são reais. O cabelo começou a cair mais do que o normal, fui ao médico e conheci o termo “estresse oxidativo”. São placas vermelhas que me surgem no rosto e no colo, principalmente após as sequências de choro. Isso tem a ver com a circulação sanguínea, as emoções mexem com tudo na gente. E não é por pouco tempo, né? Filmes e séries são resolvidos em um, dois, três meses. Novela, não. Começamos a gravar no início de agosto do ano passado. Desde então, a entrega é total — observa, reforçando: — Muitas vezes, saí do trabalho com a sensação de que não estava me aguentando em pé. Não é uma reclamação. Volto para casa com a certeza do dever cumprido. Esgotada, com enxaqueca, mas sabendo que fui até o meu limite como atriz.
Galerias Relacionadas
Uma mulher que teve sua memória roubada com requintes de crueldade pelo marido e pela sogra… Enganada, dopada, separada da filha, internada à força num manicômio, presa, perseguida e, em breve, sequestrada por Juliano (Fabio Assunção). Clarice vem se afundando num sofrimento sem fim ao longo da trama de Alessandra Poggi, ao mesmo tempo que alça Carol ao sucesso como atriz dramática, após 32 anos de carreira, sendo 22 deles na Globo, em que foi apresentada como a faceira Gracinha de “Mulheres apaixonadas” (2003).
— Sempre busquei papéis em que eu pudesse aparecer completamente descaracterizada, longe da Carol Castro de cabelão, a morena sensual. Em antigas entrevistas, eu dizia que queria fazer uma espécie de “Betty, a feia” que ao final não precisasse se transformar, justamente para mostrar esse lado que não tem a ver com a beleza, que vai embora. O que eu quero que notem é o meu talento. E Clarice me deu essa possibilidade. Ela é, sem dúvidas, a personagem mais marcante e desafiadora da minha carreira na TV — afirma.
Carol construiu junto à equipe da novela, com o aval da direção e da autora, uma mocinha que se afastou dos clichês. Poderia ter se tornado chata, por tanto choro, mas conquistou a simpatia e a torcida do público, que a enche de elogios.
— Eu acredito que isso foi acontecendo por causa da minha busca em mostrar a verdadeira mulher presa dentro da mulher envolta numa tramoia de mentiras. Cuidei para que a emoção não caísse no chororô. Muitas vezes, a lágrima derrama em cena sem eu forçar. Ela cai porque eu estou com o subtexto muito ativo. Não me preocupo só com a fala e com a marcação, deixo o corpo e os pensamentos de Clarice vivos em mim — enfatiza, continuando: — Tenho muito carinho e gratidão pelo retorno que recebo do público. Um artista não é nada sem a sua plateia. Na internet, onde as pessoas costumam “descer a lenha”, vejo que é meio unânime o gosto pelo meu trabalho, os comentários são positivos em sua maioria. É uma tremenda realização essa resposta para uma personagem que venho fazendo com tanto empenho.
Clarice (Carol Castro) e Beatriz (Duda Santos) em ‘Garota do momento’
Léo Rosário/Rede Globo
Das cenas em que a professora de etiqueta apareceu com roupas e maquiagens impecáveis àquelas em que surgiu descabelada e com a “cara lavada”, ou com as olheiras propositadamente reforçadas, a desconstrução de Carol chamou atenção.
— Lutei muito por isso junto à equipe. Sugeri passar um lápis vermelho nos olhos quando houvesse closes, por exemplo. E, antes de ela descobrir que era Clarice Souza Dourado, fui conversando com o pessoal do figurino, da caracterização, para já ir desmontando aquela mulher, que foi moldada para ser algo que nunca foi — conta a atriz, explicando: — Tenho um olhar de 360 graus no estúdio, por conta de ter vivido, desde pequena, nesse universo com o meu pai (o ator Luca de Castro, que morreu aos 70 anos, em dezembro de 2023). Fiz minha primeira peça com 9 anos, um filme com 16. Nunca fiquei no hotel esperando a hora da minha cena. Ia para os sets observar como os atores e a equipe trabalhavam. Eu auxilio na continuidade, lembro de detalhes da roupa, da maquiagem. Quanto mais você cuida do seu, mais ajuda outros setores. Trabalho em prol do coletivo para que o resultado, como um todo, seja o melhor. Isso diz muito sobre o meu sonho de um dia dirigir um projeto. Mas, obviamente, tenho muita estrada pela frente.
Deixar a vaidade de lado não lhe pareceu difícil. Conforme foi amadurecendo, na vida e na arte, Carol diz que foi entendendo que o “pecado capital” deveria chegar por último. Ou nem chegar. Na “idade da loba”, ela exibe garras afiadas.
— Sou uma das poucas atrizes da minha geração que ainda não passaram por nenhum procedimento estético. Nada contra, mas acho que muita gente está perdendo a mão. Daqui a pouco vai ter até nome para essa “síndrome da padronização”. Está todo mundo ficando igual, injetando produto na bunda, na boca, no queixo, na bochecha… Para a minha profissão, é péssimo não ter linhas de expressão. Você não identifica se a pessoa está triste, se está feliz… Isso me dá um nervoso! — cutuca, confidenciando: — Na virada dos meus 40, eu até tinha planos de fazer algo no corpo, me dar de presente, mas a vida virou tudo de cabeça pra baixo. Me vi em um pós-operatório do joelho, com meu pai recém-falecido. A vaidade ficou para escanteio.
Em “Garota do Momento”, Clarice (Carol Castro) é presa por falsidade ideológica
Reprodução/TV Globo
Lidar com a perda de seu melhor amigo e sua maior inspiração foi um golpe avassalador:
— Meu pai era muito presente. Ele nunca me disse: “Filha, seja atriz”. Foi a pessoa que, quando eu contei que queria seguir essa carreira, questionou: “Ô, filha, tem certeza? Você vê desde pequena toda a dificuldade que é o mercado…”. A gente conversava todo dia, não só sobre a profissão. Tínhamos papos cultos e trocávamos memes de gatinhos. A última vez em que a gente se falou foi numa ligação muito rápida por telefone, combinando o que ia fazer para a ceia de Natal. E eu estava superapressada, às voltas com a lesão no joelho e as gravações de uma série em São Paulo. Fiquei com essa dor ainda maior, de não ter conseguido me despedir, de não estar perto dele.
No início do ano passado, ainda em tempos de luto e após passar pela cirurgia, Carol desistiu de um espetáculo teatral.
— A estreia seria no fim do ano, daria tempo para eu me recuperar, física e emocionalmente. Mas era uma peça muito verborrágica, com só duas atrizes. Um texto incrível, para concorrer a prêmio, sabe? Eu estava querendo justamente me agarrar ao trabalho para conseguir me sentir ativa de novo. Mas, ao mesmo tempo, percebi que daria um passo maior do que a minha perna. O texto, inclusive, falava sobre pai, seria delicado pra mim. Deixei o projeto para não deixar ninguém na mão. E fiquei com aquela sensação ruim de não ter dado conta — afirma.
Bia (Maisa) e Clarice (Carol Castro) em ‘Garota do momento’
Fábio Rocha/Rede Globo/Divulgação
Foi quando veio o convite para viver Clarice. Embora denso, pesado, a atriz afirma que o papel lhe surgiu como uma tábua de salvação.
— Entrei na novela com ela já bem encaminhada. Fui entendendo aos poucos o perfil da personagem, todas as suas camadas, e percebendo que eu poderia mostrar mais da minha maturidade como atriz, de uma forma que ainda não tinha acontecido na televisão. A produção precisava de uma Clarice. E eu, também, para me reerguer. Não acredito muito em coincidências, mas talvez essa personagem tivesse mesmo que ser minha. Por mais sufocante que ela possa parecer, tem sido um respiro, uma renovação. É meu renascimento, física e artisticamente, de forma impactante — desabafa.
Conforme criava intimidade com a criatura, Carol foi elaborando uma playlist para se inspirar ao emprestar sua pele a essa mulher que sofreu tantos abusos. Hoje com 61 faixas e 3h15 de duração, o repertório começa com “Embraceable you — 1940 single version”, na voz de Judy Garland, e vai até “We no speak americano”, do Hit The Electro Beat:
— Comecei com músicas de época (a novela se passa nos anos 1950), passei para umas com mais humor e vieram aquelas para realmente me concentrar para os diversos estágios da Clarice. No fim, usei muito da trilha de “Interestelar” (2014), um filme que fala sobre o amor que transcende o tempo e o espaço. O amor de um pai, mas que poderia ser de uma mãe, por uma filha: em sua forma mais pura e incondicional.
A atriz Carol Castro e sua filha, Nina
Vinícius Mochizuki/Divulgação
Duplamente mãe na ficção — biológica, de Beatriz, e de criação, de Bia —, Carol conta que sua Nina chama Duda Santos e Maisa de irmãs.
— Ela é uma figura! Quando falam “diz pra sua mãe que ela está ótima na novela”, fica toda orgulhosa. Isso é muito especial pra mim — diz Carol, contando que também tem um apelidinho para se referir à cria: — Enquanto Clarice chama Beatriz de Estrelinha, eu chamo Ninoca de Pipoca, desde que estava grávida. Primeiro, porque sou apaixonada por pipoca. Se deixar, eu janto isso todo dia. E também porque, desde quando estava na barriga, ela mexia demais. Nina puxou a minha energia, apesar de o pai dela (o violinista Felipe Prazeres) dizer que também era um espoletinha quando pequeno. Ela é muito moleca!
“Solteira há mais de um ano”, Carol afirma que está cada vez mais alerta e seletiva para não se deixar envolver por armadilhas disfarçadas de amor:
— Sempre fui de estar com alguém. Depois de muitos anos, estou conseguindo ficar bem sozinha. Tem horas em que bate vontade de uma conchinha, de ter para quem contar como foi o dia… Mas precisava cuidar de mim. Sabe aquela frase “coloque a máscara de oxigênio primeiro em você, depois no outro”? Agora posso dizer que estou começando a respirar sem máscara (risos).
Assim como Clarice com Juliano, a atriz revela que já esteve em relacionamentos tóxicos e abusivos, e demorou para percebê-los assim.
— Às vezes, é necessário sair da ilha pra ver a ilha. Passei por situações… Olho pra trás e penso: “Meu Deus, como deixei?”. Tive um (namorado) numa época em que eu fazia uma personagem que tinha muitas cenas de sexo. Eu chorava no camarim antes e depois das gravações. Um amigo, assistente de direção, me alertou: “Cuidado, as pessoas estão vendo. Isso pode te atrapalhar na profissão”. Eu chegava em casa e ouvia barbaridades dele. Por ciúme, machismo, posse. Teve outro que questionou pra caramba por que eu tinha feito um ensaio nu. Numa das brigas, cheguei a colocar fogo em todas as minhas revistas. Pra quê? Por quê? — reflete, observando: — O impressionante é que o relacionamento tóxico, às vezes, te transforma numa pessoa tóxica. É uma simbiose de energia ruim, que vai tomando conta dos dois. Então, pra sair, é necessário uma ajuda potente, um guincho. Em briga de marido e mulher se mete a colher, sim!
Carol Castro entre Fábio Assunção e Rocco Pitanga, nos bastidores de “Garota do momento”
Reprodução de Instagram
Recentemente, o guincho para Carol sair de outra furada foi o filme “Ninguém é de ninguém” (2023), em que faz par com Danton Mello e contracena com Rocco Pitanga, intérpretes, respectivamente, de Raimundo e Gregório — este, o atual namorado de Clarice — em “Garota do momento”. No longa, Carol e Danton formam o casal Gabriela e Roberto. Ele perdeu o emprego, e é ela quem sustenta a casa. Preso a um ciúme doentio pela mulher, ele a segue, fantasiando que a doutora está tendo um caso com o chefe, Renato (Rocco).
— Essa trama me deu muitos gatilhos. Desde o momento em que li o roteiro até as filmagens, fui percebendo: “Opa, eu vivo isso”. Precisei repensar a vida e virar a chave, mais uma vez — relata.
Com o fim das gravações da novela das seis e seu término no próximo dia 27, é em sua própria companhia que Carol vai aproveitar seus “seis dias de férias”, antes de ingressar em novos trabalhos.
— Vou para um refúgio de mar e silêncio praticar meu sereísmo, do qual estou afastada há tempo — conta, sem entregar o destino, a atriz, que cobriu no ano passado a tatuagem tribal que exibia desde a adolescência no baixo ventre com um desenho de escamas de sereia: — É na água que eu me sinto em casa. Pretendo ficar submersa nesses poucos dias de folga, num cenário paradisíaco e ensolarado.
Debaixo d’água, sim; mas, dessa vez, sem banquinho, só com os corais de apoio.
Initial plugin text

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *