

Ex-presidente se reuniu com o deputado estadual na última sexta-feira, quando fez o pleito por Renato Araújo em chapa na corrida pelo governo estadual no ano que vem O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encabeça uma articulação que busca conter a insatisfação de seus apoiadores sobre a corrida pelo governo do Rio no ano que vem. Na última sexta-feira, ele se reuniu por videoconferência com o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), pré-candidato ao Palácio Guanabara, e sinalizou apoio à sua candidatura — mas com uma condição estratégica: indicar o nome do vice na chapa, como mostrou a colunista do GLOBO Bela Megale.
Durante o encontro, Bolsonaro sugeriu o nome do empresário Renato Araújo (PL), que concorreu à prefeitura de Angra dos Reis, na Costa Verde, nas eleições municipais de 2024. Araújo é aliado de longa data do ex-mandatário, que chegou a visitar a cidade na semana do pleito para tentar impulsionar a candidatura do correligionário, que acabou na segunda colocação.
O empresário supervisionou a construção da casa de veraneio do ex-presidente na Vila Histórica de Mambucaba, no mesmo balneário turístico. Como O GLOBO mostrou em dezembro último, a suposta beneficiária de um contrato de R$ 900 mil para reformar a residência de Bolsonaro em Angra, a empresa Insight Engenharia Integrada, tem como único sócio Rafael Nóbrega de Sousa, cunhado de Renato Araújo.
Araújo também é dono da empreiteira Bravo Construções, que atua em Angra há cerca de uma década. Ele chegou a ter seu diploma contestado durante as eleições pelo seu opositor, o atual prefeito Cláudio Ferreti (MDB). Ele apresentou à Justiça Eleitoral um atestado de conclusão do curso de Engenharia Civil, entre 2018 e 2022, por uma faculdade declarada extinta pelo Ministério da Educação (MEC), a Hélio Rocha.
A faculdade foi descredenciada pelo MEC em março do ano passado, por indícios de “inatividade acadêmica” entre 2020 e 2021. Segundo apontado pelo MEC em ação judicial na 11ª Vara Federal da Bahia, a instituição não comprovou que ofereceu aulas regulares de graduação durante esse período. A faculdade chegou a obter uma liminar para suspender o descredenciamento em junho do ano passado, mas a decisão foi cassada em setembro. Araújo, por sua vez, afirma que a instituição estava regular ao longo de sua formação.
Como resposta, Araújo ingressou com uma ação por propaganda caluniosa contra Ferreti, mas a Justiça Eleitoral terminou arquivando o caso entendendo não ser sua prerrogativa verificar a veracidade da formação acadêmica do então candidato.
Aliança estratégica
A chancela pessoal do ex-presidente pode atenuar a resistência em torno de Bacellar, alvo de críticas entre integrantes do núcleo duro do bolsonarismo por não ser, até então, identificado como um político genuinamente do grupo.
Antes, a família Bolsonaro e seus aliados demonstravam apreço por Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário de Transportes, que está inelegível. Ao GLOBO, Reis se declarou aliado de Bacellar:
— Bacellar é o candidato do governador (Cláudio Castro), o governador confia nele — afirmou.
Com a costura de Bolsonaro, o PL passaria a ter três vagas na chapa majoritária, uma vez que já indicaria os dois nomes ao Senado: o próprio Castro e o já senador Flávio Bolsonaro. Os demais partidos que devem compor a aliança, como o MDB, não demonstram resistência à configuração e devem concentrar seus esforços na eleição proporcional, com foco nas chapas para deputado estadual e federal.
Apesar da articulação avançada entre União Brasil e PL, o ambiente ainda é de cautela. O presidente estadual do PL, o deputado federal Altineu Côrtes, afirmou que a indicação à vice ainda está em fase de discussão interna, e revelou que Araújo era considerado pré-candidato a deputado federal até a semana passada.
— A vice não estava no cenário até agora. Ele (Renato Araújo) é um ótimo rapaz, seria um nome considerado, mas temos outros nomes fortes. O partido está com Bacellar, mas vamos conversar muito, ainda — disse.
Roteiro à la Pezão
Nos bastidores, há quem veja na estratégia de Rodrigo Bacellar um paralelo com a trajetória de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, quando o último foi preparado como sucessor em um movimento de continuidade política. Cabral deixou o cargo quase um ano antes da eleição — algo que pode se repetir com Castro e Bacellar.
Neste momento, a aliança entre União Brasil e PL, com a bênção direta do ex-presidente, é vista como um passo decisivo rumo à formação de uma frente ampla de direita no Rio de Janeiro. A articulação visa não apenas conquistar o Palácio Guanabara, mas também enfraquecer as chances do atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), apontado como potencial candidato ao governo estadual em 2026.