Após um período de pausa, a banda carioca Braza – formada por Danilo Cutrim, Nicolas Fassano, Pedro Lobo e Vitor Izenzee – voltou aos palcos com o lançamento do álbum Baile Cítrico Utrópico Solar. Com dez faixas acompanhadas de videoclipes, o disco aposta em sonoridades dançantes, entre o reggae e o dancehall, propondo uma “festa popular” com camadas de “resistência”. “O álbum vem depois de um hiato que fizemos justamente para respirar e produzir esse trabalho com bastante calma, carinho e cuidado”, afirma Izenzee.
Gravado em meio à natureza, em imersões fora dos centros urbanos, o álbum marca uma mudança no processo criativo do grupo. Essa vivência influenciou tanto a sonoridade quanto a estética do projeto. “Unimos essas palavras que, à primeira vista, podem parecer um nonsense, mas têm tudo a ver com o som dançante, com essa coisa cítrica de sabor, mas que também provoca, tira da zona de conforto”, explica Fassano sobre o nome do disco, em entrevista ao Conexão BdF.
A capa, assinada por Wagner Donato, foi desenvolvida em diálogo com o processo criativo da banda. “Ele acompanha todo o desenvolvimento do trabalho, o conceito por trás, e, com isso, constrói uma capa que traduz ao máximo o que queremos passar com as músicas”, relata Lobo.
A banda se define como um coletivo artístico. Para os integrantes, criar em conjunto é uma forma de romper com a lógica individualista predominante. “Nós acreditamos que somos, na verdade, um grande organismo, células de um mesmo corpo”, diz Izenzee. “O exercício do trabalho coletivo é muito frutífero e bonito”, complementa. A retomada dos shows, que já conta com mais de 11 datas pelo Brasil, reforça esse desejo de “olho no olho”, como destaca Fassano.
Leia a entrevista na íntegra:
Vocês lançaram há poucas semanas o álbum Baile Cítrico Utrópico Solar. Tem muito reggae, mas está bem dançante. Como tem sido a recepção do disco?
Vitor Izenzee: Nós estamos muito felizes com o resultado. O álbum vem depois de uma pausa, um hiato que fizemos justamente para respirar e produzir esse trabalho com bastante calma, carinho e cuidado. Junto com o álbum, lançamos também um vídeo para cada uma das dez faixas. Convidamos todo mundo a conferir nas plataformas de streaming e também os vídeos no YouTube.
Estreamos os shows no Sesc Guarulhos [em São Paulo], na sexta e sábado passados, e foi maravilhoso. Aqui no Rio também fizemos um show na Lagoa, no domingo. Esses três primeiros shows foram um pontapé inicial para uma turnê que estamos elaborando com muito carinho. Já temos mais de 11 apresentações marcadas pelo Brasil. Convidamos todos a chegarem junto, conferirem as datas, que estão nas nossas plataformas, no site onbraza.com e no Instagram, no TikTok e outras redes.
Sobre a concepção do nome do álbum e da capa, que traz elementos bem coloridos, como foi o processo para chegar nessa identidade?
Nicolas Fassano: A identidade visual tem muito a ver com a sonoridade. A sonoridade desse disco está diretamente ligada à forma como ele foi composto. O som do Braza tem uma característica mais urbana, e esse foi o primeiro disco que fizemos em um ambiente mais natural. Foram três ou quatro imersões em sítios e uma casa próxima ao mar, situações mais integradas à natureza. Isso refletiu na sonoridade e, consequentemente, no visual da capa, dos vídeos, na visualidade como um todo.
Isso também influenciou o nome do disco. É um nome mais longo. Nós sempre lançamos discos com nomes curtos, assim como as músicas, então experimentamos algo com mais camadas. Unimos essas palavras que, à primeira vista, podem parecer um nonsense, mas têm tudo a ver com o som dançante, com essa coisa cítrica de sabor, mas que também provoca, tira da zona de conforto. Isso está muito presente nas nossas letras. ‘Utrópico’ é essa brincadeira com o tropical, e o ‘Solar’ traz esse brilho, essa luz. Este disco tem realmente uma cor própria, se comparado aos primeiros do Braza. Estamos muito felizes com o lançamento.
VI: Nós acreditamos muito, ao mergulhar no nome do álbum, na importância do encontro. Acreditamos na festa popular, no encontro como ferramentas de resistência, e não apenas resistência, mas também de proposição de um futuro melhor. Assim como a arte em geral: nós fazemos arte por uma necessidade de expressão, mas também, com toda a modéstia, acreditamos que ela pode nos transformar e, quem sabe, transformar um pouquinho os outros também. E, consequentemente, transformar a sociedade. Isso já nos deixa felizes.
Pedro Lobo: Sobre a capa [do álbum], o Braza é uma banda com foco principal na música, mas também somos um coletivo. Sempre tivemos muita preocupação com o visual, seja nos clipes ou nas capas dos discos. Desde o início, trabalhamos com o artista visual Wagner Donato, que é o responsável por essa capa. Ele não chega só no final com uma arte pronta, ele acompanha todo o desenvolvimento do trabalho, o conceito por trás, e, com isso, constrói uma capa que traduz ao máximo o que queremos passar com as músicas.
Em um momento em que a coletividade está em xeque, qual a importância de fazer as coisas no diálogo, ouvindo o outro, trazendo diferentes experiências para compor um álbum?
VI: Infelizmente, vemos a ascensão de um pensamento que, para nós, não é muito bacana, pois exalta o individualismo e não reconhece os benefícios do coletivo. Nós acreditamos que somos, na verdade, um grande organismo, células de um mesmo corpo. Se acreditamos nisso, não podemos desejar o mal ao próximo, nem ao meio ambiente.
Temos a sorte de trabalhar coletivamente. Claro, há dificuldades, pensamentos diferentes, inclusive na hora de compor, mas o exercício do trabalho coletivo é muito frutífero e bonito. Aproveito para agradecer aos meus amigos de banda por me proporcionarem essa experiência tão rica. Esperamos que a sociedade também possa superar dificuldades e preconceitos, para que passemos a nos enxergar como membros do mesmo grande organismo, com mais respeito e amor.
NF: O contato pessoal se transformou bastante. Nossa geração já viveu o mundo com internet, mas ela não era tão massificada. Hoje é perceptível como as relações mudaram. Não estamos tão juntos quanto antes, e isso não é só por causa da internet, mas também pelas fases da vida, a idade. O encontro passou a acontecer de outra forma.
Então essa experiência com o público, esse contato direto, está sendo muito interessante. Pensar sobre isso no mundo fragmentado de hoje, onde tudo é online, reuniões, decisões… Na hora de compor, nada substitui o contato humano. O tête-à-tête, dormir e acordar junto, cozinhar, viver esses dias em imersão, tudo isso reforça a importância do olho no olho.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
O post Banda Braza celebra o coletivo e a festa popular em novo álbum apareceu primeiro em Brasil de Fato.