Atuar em conjunto para alcançar a soberania alimentar em diferentes países da América Latina, esse é o objetivo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América com a criação da AgroAlba. A iniciativa é mecanismo geopolítico da entidade no setor agrícola, para impulsionar projetos conjuntos de produção e distribuição de alimentos.
O projeto foi criada na última cúpula da Alba em dezembro de 2024 em Caracas e agora inicia as atividades, também na capital venezuelana, com o primeiro encontro de ministros de pesca e agricultura dos países. O grupo é composto por Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Dominica, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, Granada, São Cristóvão e Névis e Santa Lúcia .
Para os integrantes do grupo, a ferramenta passa a ser uma forma de enfrentar diferenças no abastecimento de alimentos de cada país. O secretário-geral da Alba, Jorge Arreaza, afirma que a expectativa é promover uma integração que seja econômica e produtiva entre os países-membros.
“Ela nos dá a capacidade de produzir alimentos em qualquer um dos nossos países para o resto dos países, em um investimento conjunto em que todos ganham, e essa iniciativa muito interessante que pode dar resultados em curtíssimo prazo, que é a Alba Azul que o presidente [da Venezuela] Nicolás Maduro disponibilizou por meio do Ministério de Pesca e Aquicultura da Venezuela e que nos permitirá ver muito em breve frotas pesqueiras conjuntas de nossos países no Mar do Caribe”, afirmou ao Brasil de Fato.
O primeiro encontro da AgroAlba terminou com 4 acordos e memorandos de entendimento para facilitar o acesso à terras produtivas, desenvolver ferramentas comerciais que possibilitem o intercâmbio de produtos e de técnicas entre os países.
Os acordos incluíram a criação de um programa de cooperação entre o Ministério da Pesca e Aquicultura da Venezuela e o Ministério da Indústria Alimentar de Cuba, e o estabelecimento de um plano de trabalho entre o Ministério para a Agricultura Produtiva e Terras venezuelano e o Ministério da Agricultura de Cuba para implementar o projeto AgroAlba.
A Venezuela também assinou uma carta de intenções com a República Dominicana para a cooperação na agricultura e um memorando de entendimentos com a Dominica para o desenvolvimento de projetos.
Também foram acordadas 14 linhas estratégicas de ação, entre elas a formalização da criação de um fundo regional de investimento para o desenvolvimento agroalimentar e a formação de uma frota pesqueira conjunta como mecanismo para impulsionar e fortalecer relações econômicas de apoio.
A tendência é que esse movimento leve a uma integração cada vez maior entre os membros da Alba e fortaleça a própria organização. A ministra da Agricultura de Honduras, Laura Elena Suazo Torres, afirma que há países com níveis diferentes de industrialização no campo e que é importante uma troca para desenvolver também as nações que têm mais dificuldade de produzir por diferentes motivos.
“A AgroAlba é um mecanismo que pode ajudar a garantir a segurança alimentar. No sentido de que alguns países que estão no bloco avançaram em certas áreas da agroindustrialização, de produção de alimentos e podemos mais facilmente promover um intercâmbio de tecnologia, comércio de produtos e ajudarmos entre nós. Que nos permitam crescer juntos, compartilhar experiências e novos projetos”, afirmou ao Brasil de Fato.
O objetivo do bloco é agregar valor às matérias-primas e dar um salto tecnológico e produtivo que ajude os países a também conseguirem acumular dólares.
O encontro da Alba se justifica ainda mais pelo contexto atual. O momento é o de maior ataque dos Estados Unidos contra os países do Sul Global. Tarifas, expulsão de migrantes e uma pressão cada vez maior do governo de Donald Trump com sanções econômicas contra países governados pela esquerda são alguns dos instrumentos usado pela Casa Branca e que criaram instabilidade no tabuleiro geopolítico.
O ministro da agricultura de Cuba, Ydael Pérez Brito, afirma que o reforço das relações entre países da Alba é uma das principais formas para enfrentar esses ataques e garantir a segurança alimentar da região.
“A produção de alimentos sempre foi segurança e soberania, mas é difícil produzir alimentos no momento em que vivemos. Pela situação climática, envelhecimento populacional, migração cada vez maior dos campos para as cidades. Então quando os países se unem para produzir e buscam possibilidades de articulação, isso pode ser mais forte. Ou seja, pode criar a possibilidade de produzir mais alimentos. Essa cooperação é boa porque alguns fornecem o que outros não têm”, afirmou ao Brasil de Fato.
A interação agrícola dos membros da Alba também pode ampliar as receitas e a entrada de dólares para os países. Torres afirma que um dos caminhos para isso é ampliar as pesquisas em tecnologia e inovação, para deixar de depender dos países que estão no centro do sistema capitalista. Para isso, ele indica a necessidade de estudos e medidas para adaptação às mudanças climáticas.
“Estamos fazendo o intercâmbio de pesquisas genéticas de plantas, de animais, de sementes. Mas outro ponto importante tem a ver com insumos, porque alguns países são mais altamente dependentes de insumos externos. Quem de nós produz e que insumos precisamos entre si. Isso é parte dessa reunião. Ver como diminuímos essa dependência forte que temos e que levam nossas divisas para territórios mais longes, quando aqui somos vizinhos e poderíamos reduzir o custo de produção”, disse.
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