

Especialista fala de aspectos multifatoriais que vão da fadiga mental à evolução do futebol brasileiro a partir da chegada dos treinadores portugueses É incontestável: o desempenho dos clubes europeus no Mundial está abaixo das expectativas. Mesmo com as vitórias apertadas de Borussia Dortmund e Inter de Milão, neste sábado, os 63% de aproveitamento dos pontos (38 em 60) ainda surpreendem. Seguem inferiores aos 78,8% dos sul-americanos, que somam 26 dos 33 disputados nas primeiras rodadas — sem contar o jogo do River Plate pelo Grupo E. A questão é saber a razão disso.
Um profissional da ciência do esporte que acompanha uma das delegações brasileiras na competição me explicou que a discussão não se reduz ao fato de os europeus estarem em fase de transição na temporada, intervalo entre o fim de uma e o início da outra. A análise, nas palavras dele, é “multifatorial”, mas com mais ênfase à “adaptabilidade” ao cenário climático e estrutural adverso para o padrão europeu.
O anonimato que o protege por burlar as regras da comunicação do clube não impede confissões. Uma delas: os profissionais dos times brasileiros trocam análises sobre o que se vê. “Na percepção das comissões, o clima seco está deixando o gramado mais seco e mudando a velocidade da bola. E tem impacto no jogo deles, mais acostumados a pisos rápidos pela umidade europeia. Mas é só um dos fatores que, somados, equilibram forças, como a fadiga mental, comum em final de temporada”, diz.
A vinda de técnicos europeus para o Brasil provocou o intercâmbio entre profissionais de diversas áreas da preparação. E isso, somado à qualidade dos jogadores trazidos pela política de investimento mais arrojada, acelerou o fortalecimento. Ele diz que a presença dos portugueses contribuiu para a evolução local: “Estudos mostram aumento de 30% no investimento em recursos humanos dos clubes brasileiros que adquirem jogadores com maior valor de mercado”.
Não quer dizer que Botafogo, Fluminense, Flamengo e Palmeiras sejam favoritos para a conquista do Mundial. Só que o desnível técnico é tático já não é percebido quando o confronto ocorre em condições climáticas e estruturais desfavoráveis aos times europeus.
Pelo que foi possível entender, se os jogos estivessem sendo disputados em solo europeu, e nesta mesma época do ano, a superioridade dos elencos mais valiosos talvez se confirmasse. Como o cenário é mais próximo da realidade sul-americana, aumentam-se as chances dos times brasileiros mais bem estruturados — casos de Flamengo e Palmeiras. O que não elimina as chances de Botafogo e Fluminense chegarem ao título. Já não duvido de nada…