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Temperaturas negativas e alta do Guaíba agravam alerta climático no Rio Grande do Sul

   

O Rio Grande do Sul amanheceu sob mantos de geada e temperaturas negativas nesta quarta-feira (25), marcando um dos dias mais frios do ano em diversas regiões do estado. De acordo com o Metsul Meteorologia, na Grande Porto Alegre, os termômetros chegaram a registrar marcas abaixo de zero, como em Viamão, onde a mínima foi de -1,4ºC. Em Gravataí, a temperatura chegou a 0,4ºC; em Eldorado do Sul, 1,6ºC; e em São Leopoldo, 2,4ºC. Na Capital a menor temperatura do ano foi registrada no Jardim Botânico: 2,8ºC. No Aeroporto Salgado Filho, os termômetros marcaram apenas 2ºC.

 
 

No interior do estado, o frio foi ainda mais rigoroso, com mínimas que chegaram a -6,1ºC em Capão Bonito do Sul, a mais baixa do dia. Também foram registradas temperaturas de -5,8ºC em Pinheiro Machado; -5,7ºC em São José dos Ausentes; -5,5ºC em André da Rocha; -5,4ºC em Soledade; -4,9ºC em Getúlio Vargas; -4,5ºC em Vacaria; -3,9ºC em Ernestina; -3,7ºC em Canela; -3,6ºC em Serafina Corrêa; -3,3ºC em São Marcos e Antônio Prado; -3,2ºC em Cambará do Sul; e -3,1ºC em Santa Rosa.

As condições de frio intenso são resultado de uma poderosa massa de ar polar que atingiu o Sul do Brasil no início da semana, associada a um ciclone extratropical na costa da Argentina. Com céu limpo, ventos fracos e ar seco em altitude, o cenário favoreceu o intenso resfriamento noturno e a formação generalizada de geada, afetando desde áreas urbanas até regiões rurais produtivas.

Guaíba atinge cota de inundação 

Enquanto o frio gela o solo gaúcho, as águas do Guaíba voltam a gerar preocupação. Na manhã desta quarta-feira, o nível do lago atingiu a cota de inundação de 3 metros no Cais Mauá, no centro da Capital. A elevação é consequência do chamado “repique”, um novo aumento no volume de água causado pelas chuvas dos últimos dias nos vales do Taquari e do Caí.

Segundo o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), os níveis devem permanecer elevados ao longo da semana, acima dos 3 metros na régua da Usina do Gasômetro. A previsão indica ainda mudança na direção dos ventos a partir da madrugada de quinta-feira (26), com predominância de vento sul – fator que pode manter o Guaíba oscilando próximo da cota de inundação. O patamar de alerta, que indica risco elevado de inundação, foi ultrapassado na sexta-feira (20), e em áreas como a região das ilhas – cuja cota de inundação é de 2,20 metros – os danos já começaram a ser sentidos desde o último sábado (21).

Nas ruas da Capital já foram registrados transbordamentos de bueiros e acúmulo de água, como observado nas avenidas Álvaro Chaves, Voluntários da Pátria e Polônia. Como medida preventiva, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre determinou a instalação de telas de proteção nos decks da orla do Guaíba, especialmente no trecho 1, para evitar a circulação de pessoas e animais em áreas planas próximas à água.

Durante vistoria técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smamus) foi avaliada a resistência das obras de revitalização em andamento. O secretário Germano Bremm destacou que o enrocamento na orla de Ipanema – técnica de sustentação com pedras – tem evitado novos danos estruturais. “As obras estão mais resistentes para suportar a força da água. Estamos monitorando o nível do Guaíba continuamente para proteger a população”, afirmou.

Redes instaladas para evitar a circulação de pessoas e animais – Foto: Smamus / PMPA
 

As consequências das chuvas recentes se espalham pelo estado: mais de mil pessoas estão em abrigos e cerca de 8 mil estão desalojadas. Quatro mortes foram registradas até agora. Diante desse cenário, o deputado estadual Miguel Rossetto (PT) propôs e conseguiu aprovar, por unanimidade, um convite a representantes do governo estadual para discutir as obras dos sistemas de proteção contra as cheias.

“Queremos construir uma agenda de trabalho urgente com base nos recursos já liberados. A população não pode mais esperar”, declarou. De acordo com informações do PT Assembleia RS, R$ 6,5 bilhões já foram repassados pelo governo federal e, com a suspensão do pagamento da dívida do Estado, outros R$ 14 bilhões estão disponíveis para a recuperação do Rio Grande do Sul. 

Ruas do bairro Praia de Belas têm trechos com alagamento

Desde a manhã desta quarta-feira, o acúmulo de água tem provocado transtornos nas áreas mais baixas do bairro Praia de Belas. Em alguns trechos, o alagamento chegou a 15 centímetros, conforme moradores e registros locais. 

Kakau Soares, moradora do bairro, relata a situação: “A gente fica numa situação muito semelhante com a das ilhas, que toda vez que o Guaíba sobe, aqui acaba sofrendo essa situação. Então a gente está pedindo socorro, pedindo que seja feito alguma coisa emergencial. Tudo que for possível, que se tire essa água para que não entre nas casas. Mas uma ação que seja permanente, que é a construção das casas das bombas, e que resolva a situação desse bairro para que as pessoas possam viver nas suas casas em paz e sem preocupação”. 

A situação ocorre em decorrência da elevação do nível do arroio Dilúvio, influenciado pela alta recente do Lago Guaíba / Foto: Kakau Soares
 

A moradora destaca ainda o impacto psicológico causado pelas enchentes. “Porque muitas pessoas que saíram, muitas ficaram doentes, porque toda vez que chove gera uma pressão gigantesca, e muitos dos que estão ficam doentes, ficam nervosos, gera todo um abalo psicológico a cada chuva que vem com medo dessas inundações internas e externas. Então, as pessoas aqui do bairro estão tomadas pelo medo e pela aflição.”

Ela descreve que a água está saindo pelos ralos e infiltrando pelo piso, gerando inundações que vêm se repetindo há anos, com episódios marcantes em 2008, 2015 e, consecutivamente, nos últimos três anos. Os apartamentos chegaram a ficar alagados por meses durante as chuvas de 2023 e as enchentes de 2024, que atingiram ruas e prédios.

Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), as vias da região contam apenas com sistema de drenagem por gravidade, o que dificulta o escoamento da água em períodos de cheia. Como não há bombeamento no local, a elevação do arroio acaba represando a água nas tubulações, provocando alagamentos em pontos mais baixos do bairro.

O Dmae informou ainda que um projeto de redirecionamento da rede já foi contratado e está em fase de elaboração. A proposta prevê a ligação das tubulações a uma das casas de bombas mais próximas, o que deve minimizar o problema nas próximas horas. A situação ocorre em decorrência da elevação do nível do arroio Dilúvio, influenciado pela alta recente do lago Guaíba.

Acesso a Eldorado do Sul é bloqueado

Desde as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, o trecho da BR-290 no km 107, sentido Interior-Capital, está completamente bloqueado. A interdição foi causada pela elevação do nível do rio Jacuí, que avançou sobre a pista, tornando o trânsito inviável. Cones sinalizam o bloqueio e, até o momento, não há previsão para a liberação da via. Ao longo da manhã, outros pontos da cidade também foram tomados pela água.

As águas já alcançam também o Assentamento Integração Gaúcha (Irga), localizado no munícipio. Local foi gravemente atingido pelas enchentes de maio de 2024. “A história se repete como tragédia. Um pouco mais de um ano, a as águas voltam a inundar nossos assentamentos. Em Eldorado do Sul as hortas já estão sendo atingidas e a água chega perto das casas. Os moradores já estão saindo de suas moradas, reconstruídas com tanto trabalho e dor. As mudanças climáticas são a nova realidade e precisamos estar preparados. Chega de negligência”, relata a dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no RS, Lara Rodrigues.

A direção do MST já solicitou audiência com o governo do estado para tratar da situação das famílias que aguardam o reassentamento desde o ano passado.

Águas já atingem o Assentamento Integração Gaúcha (Irga), localizado em Eldorado do Sul – Foto: Arquivo pessoal
 
Produção das hortas está comprometida – Foto: Arquivo pessoal
 

Para quem precisa chegar a Eldorado do Sul, a recomendação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é seguir até o Posto Rota e, de lá, acessar o município por uma via lateral, considerada segura.

Lagoa dos Patos gera apreensão em Rio Grande

Na noite de terça-feira (24), o nível da lagoa atingiu 1,02 metro – ultrapassando em 21 centímetros a cota de inundação. De acordo com a régua de medição do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar), o vento soprava do oeste a 21 km/h. Durante a madrugada, parte da água escoou das áreas alagadas. Às 9h desta quarta-feira, a tábua de maré da Praticagem da Barra indicava 0,23 metro, com vento nordeste a 9 km/h.

A Defesa Civil de Rio Grande alerta que o volume de água que desce de outras regiões do estado pelo Guaíba pode alcançar a lagoa dos Patos entre esta quarta e a quinta-feira. A orientação é de que moradores de regiões vulneráveis – como ilhas, margens de rios e áreas centrais próximas à lagoa – fiquem atentos. A prefeitura já se mobiliza, organizando abrigos e embarcações para possíveis operações de resgate.

 

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