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5ª edição do AgroPANC reforça aliança entre agroecologia e plantas alimentícias não convencionais

A comunidade de Prado Novo, na zona rural de São Lourenço do Sul (RS), foi escolhida para acolher a 5ª edição do AgroPANC, evento promovido pelo projeto de extensão PANCPop, da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), que coloca as plantas alimentícias não convencionais (PANCs) em evidência. Contando com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), além de institutos e cooperativas, a atividade foi realizada no dia 11 de junho e mobilizou cerca de 100 participantes inscritos, em sua maioria agricultores e agricultoras de matriz camponesa.

 
 

A coordenadora do projeto, professora Jaqueline Durigon, saudou o momento como “uma grande convergência de vontades, de interesses e de responsabilidades compartilhadas, com as sementes, com a agroecologia, com as trocas de saberes e com a agricultura camponesa”. Ainda nas palavras da coordenadora, o momento permitiu aos presentes reafirmar o compromisso da reinserção das PANCs na agricultura familiar e camponesa, “público que entende a importância da biodiversidade”.

Também docente na Furg e integrante do PANCPop, Carlos Seibert Jr., mais conhecido no grupo pelo apelido de Jajá, explica que o AgroPANC busca popularizar o uso das plantas não convencionais, seja de dimensão do consumo como também da produção. “Então esse momento se torna uma celebração de todo um processo que vem sendo construindo na lógica de trabalho do projeto PANCPop e inserido no contexto da realidade camponesa”, afirmou.

Diferentes segmentos estiveram reunidos durante a atividade, reforçando alianças em prol das PANCs / Foto: Corbari
 

Primeiro vem a terra…

O início do dia se deu na unidade produtiva da família Azevedo, com envolvimento próximo da família Fischer, que também atua na promoção das PANCs. Os participantes foram divididos em dois grupos e conheceram in loco exemplos de plantas e técnicas de cultivo, participando inclusive de momentos de colheita. Um dos grupos foi conduzido pelos representantes do PANCPop/Furg, enquanto o outro foi pela Embrapa.

Para Josuan Schiavon, dirigente do MPA vinculado à cooperativa Origem Camponesa no município de Encruzilhada do Sul (RS), o momento foi propício para que os camponeses presentes pudessem conhecer mais sobre a agrobiodiversidade, resgatar conhecimentos sobre plantas alimentícias não convencionais e também de conhecer novas possibilidades de geração de renda e de acesso à informação de comercialização.

Também dirigente do MPA e integrante do coletivo “Flor(e)Ser”, a agricultora agroecológica Rosiéle Lüdke veio de Paraíso do Sul (RS) para compartilhar um testemunho: em meio à perda da produção durante as enchentes de maio de 2024, foram as PANCs que garantiram às famílias do seu grupo manter a comercialização nas feiras em que participam em Paraiso do Sul e Santa Maria, amparando o processo de reconstrução e retomada da produção convencional.

As famílias Fisher e Azevedo foram as anfitriãs do 5º AgroPANC na comunidade do Prado Novo / Foto: Corbari
 

Depois chega na mesa…

Ao meio-dia e no final da tarde foram compartilhadas refeições compostas à base de PANCs, complementando através da degustação os saberes compartilhados no campo. “O momento de preparar o alimento e compartilhar a refeição é onde tudo aquilo que fazemos se encontra”, explica a estudante Daniela Krack , que coordenou a preparação das refeições.

“Eu fico feliz em receber aqui essas pessoas que vem participar do encontro. É bom receber as pessoas, fazer novos amigos, aprender coisas novas com eles e também ensinar o que a gente aprende cuidando das plantas e da terra”, explica o jovem Marcelo Fisher, que descobriu no cotidiano do cultivo das PANCs um meio de vencer as próprias limitações.

“A gente só constrói um futuro a partir de uma visão desse futuro. Eu acho que muitas sementes estão sendo plantadas aqui, principalmente com cooperação e solidariedade. Nós estamos aqui pensando na construção de um mundo que seja mais justo para todos”, comenta Lourdes Schneid, dirigente do Movimento Verdenovo.

Depois da experiência de campo, a troca de saberes na sede da comunidade / Foto: Corbari/BdF
 

Continua na prosa…

Além da contribuição de Rosiele Lüdke, que iniciou a programação das comunicações na parte da tarde, relatando como o MPA e o coletivo “Flor (e) Ser” trabalham com o segmento das PANCs, outra presença em destaque foi o pesquisador Nuno Madeira, da Embrapa Hortaliças, de Brasília (DF).

“A impressão do trabalho que vem sendo feito aqui junto aos agricultores, com a participação de muitos acadêmicos, nessa interação da produção com a academia, está sendo fantástica, chegando lá no consumo, na feira, junto à sociedade. A gente vê que a construção é cada vez mais e concreta, consolidando um efeito multiplicador muito interessante”, aponta o pesquisador que já mantém um relação de anos com o projeto PANCPop e com a Furg. Ele tem sido uma das principais vozes pelo Brasil afora, evidenciando o tema da agrobiodiversidade a partir do recorte das plantas alimentícias não convencionais.

A Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS), também esteve representada. Leonardo Ferreira Dutra destacou a importância da inclusão socioprodutiva promovida pelo cultivo das PANCs. “É importante se arraigar com as coisas da terra e sair de um padrão que nós temos hoje de consumo com visão reducionista, de alimentos cada vez mais direcionados e com todas as questões produtivas”, defendeu.

Conforme ficou evidente em diferentes momentos de conversa, há muitos temas em comum que podem ser trabalhados em parceria envolvendo a Embrapa, a universidade, os movimentos sociais e as famílias camponesas. Entre os quais a ideia de ampliar as áreas de cultivo, diversificar a produção, promover ações junto aos quintais produtivos, inserir as PANCs em programas institucionais e até mesmo o estabelecimento das cadeias curtas de produção e comercialização.

Ponto comum entre todos os participantes do 5º AgroPANC: o sorriso aberto no rosto / Foto: Corbari
 

E finalmente chega na causa!

“Falar das PANCs é falar das nossas bandeiras de luta, é falar do Plano Camponês, é falar de autonomia, é falar de resistência, é falar de soberania”, aponta Josuan Schiavon. “Para o nosso grupo tem um significado muito importante e nós cada vez mais queremos reafirmar o nosso compromisso de manter essa grande riqueza e de espalhar essa boa notícia para todos os cantos”, afirma Rosiele Lüdke.

Para o professor Jajá, as PANCs representam a resposta a um mercado e a um sistema agroalimentar hegemônico: “Se trata de um instrumento de luta porque a gente reage uma ditadura do mercado de dizer aquilo que a gente pode ou não pode comer.  Então sim, com certeza a gente trabalhar com as pautas das PANCs num contexto camponês e agroecológico é sem sombra de dúvidas um ato político”.

Já Madeira, identifica como fator decisivo a construção das alianças. “A gente tem oportunidades de acertar mais e de errar menos.” Para o pesquisador ─ que reconhece a importância dos camponeses no processo de construção do conhecimento ─ encontros como o AgroPANC são oportunidades de aprender mais.

Por fim, Jaqueline Durigon é firme ao apontar o objetivo comum que baseia o trabalho de todos que aceitaram alinhavar suas possibilidades e posicionamentos a partir do 5º AgroPANC: “O projeto também tem essa grande sensibilidade, ele não atua só com alimentos e com plantas, ele atua com pessoas. Eu acho que esse é o espírito da agroecologia, as pessoas”.

 
 

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