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Caminhos do Rio: autoridades e especialistas debatem turismo como solução de segurança nas grandes cidades

 

Setor teve crescimento no Brasil e no Rio, mas ainda enfrenta gargalos como a conectividade nacional e internacional, e regulamentação de plataformas de hospedagem por temporada O turismo pode ser um fator de promoção da segurança nas cidades — e não um refém da falta dela. A ideia foi levantada na terceira edição do seminário Caminhos do Rio, realizada ontem no auditório da Editora Globo, com o tema “Além do cartão-postal: como impulsionar o turismo do Rio aliando crescimento e sustentabilidade”. Ponto sensível, a segurança logo veio à tona no debate entre os convidados do primeiro painel, que abordou “O impacto dos grandes eventos para a imagem do Rio”.
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O Caminhos do Rio é uma realização dos jornais O Globo e EXTRA, com apoio da Fecomércio RJ e apoio institucional da Prefeitura do Rio de Janeiro.
A mediação do encontro coube a Rafael Galdo, editor de Rio do EXTRA. Na primeira mesa, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, observou que a segurança é um desafio comum às grandes cidades, por vezes visto de forma “paralisante”, mas que não tem sido — e nem pode ser — um impeditivo para o desenvolvimento do setor.
— Se a segurança pode ser um problema para o turismo, por que o turismo não pode ser uma solução para a segurança? Se um lugar se prepara melhor para o turismo, ele é mais seguro, porque gera mais empregos, tem mais deslocamento de pessoas, mais atrativo e ativos culturais — argumentou Freixo.
Segundo ele, o setor alcançou a marca de 6,7 milhões de turistas internacionais no ano passado, gerando US$ 7,3 milhões. A meta nacional para 2027 é receber 8 milhões de turistas, mas tudo indica que a marca pode ser antecipada para 2025.
— A gente está com 4,4 milhões de turistas em quatro meses do ano. Existe a chance real de chegar a 8 milhões em 2025, e antecipar em dois anos a meta — acrescentou Freixo. — Só no Rio, de janeiro a março deste ano, foram 740 mil turistas estrangeiros. Em três meses, é a metade de todos que vieram ano passado.
Para alavancar os números, ele apontou ainda o público chinês como uma oportunidade de investimento do Brasil, que teve 140% a mais de voos vindos da China.
O exemplo dos megashows
Palco de megashows, a cidade vem batendo recordes. Na Praia de Copacabana, o público de 1,6 milhão de pessoas que assistiu à apresentação de Madonna em 2024 foi ultrapassado pelos 2,1 milhões de fãs que cantaram junto com Lady Gaga este ano. Daniela Maia, secretária de Turismo do município, lembra da experiência de anos de carnaval e réveillon.
— O Rio é uma cidade preparada, mas não foi algo que caiu do céu. A gente foi aperfeiçoando. Dois milhões de pessoas em uma praia aberta e nada aconteceu de grave? A gente está comunicando isso ao mundo. Não é qualquer cidade que consegue. O Rio tem apresentado uma sensação de liberdade e de segurança — avalia a secretária.
O momento do setor, segundo Luiz Strauss, presidente do Conselho Curador do Visit Rio, é propício, inclusive, para reverter a sensação de insegurança na população local:
— Talvez a desordem urbana dê uma sensação piorada da segurança no Rio. A gente fica contaminado por isso, mas os que vêm aqui nem tanto. Os grandes eventos são uma oportunidade de promoção, de colocar o Rio e o Brasil no cenário. Um show da Lady Gaga provoca o interesse de conhecer um destino, e segurança não é o fator preponderante. Quem visitou, saiu daqui encantado.
Adriana Homem de Carvalho, diretora de Turismo Social, Hotelaria e Alimentação do Sesc RJ, lembrou que a captação de grandes eventos para a cidade demanda aporte de recursos que nem sempre o município consegue prover.
— As pessoas não têm ideia de como é difícil trazer um evento para a cidade. É um trabalho de dois a seis anos, que demanda aporte financeiro para arcar com os custos, e nisso a Fecomércio tenta ajudar. O Websummit teve um aporte de 8 anos, por exemplo — afirmou Adriana.
Além dos turistas de lazer, o setor olha para quem viaja a negócios, ou para eventos de pequeno e médio porte, que movimentam a economia fora dos períodos esperados. O tema foi abordado no segundo painel do dia, “De braços abertos de janeiro a janeiro”.
— Uma pesquisa da FGV a pedido da Embratur mostrou que esse turista produz quatro vezes mais que o turista de lazer. É uma fonte que ajuda a reduzir o problema da sazonalidade e permite construir um calendário planejado — avaliou Bruno Henrique, diretor de Marketing e Conteúdo da GL Events Exhibitions.
Nova frente, os chamados nômades digitais chegaram a eleger o Rio a melhor cidade para morar, segundo estudo divulgado pelo portal Aviation Direct no início do ano. Para recebê-los, os hotéis vêm se adaptando, com a criação de estações de trabalho, e competem com os aluguéis por temporada em plataformas de hospedagem. O tema foi debatido pela segunda mesa.
Rafael Galdo (O GLOBO e Extra), Bruno Henrique (GL Events), Adriana Homem de Carvalho (Sesc Rio), José Domingo Bouzon (ABIH-RJ) e Luiz Gustavo Medeiros Barbosa (FGV Projetos)
Leo Martins/Agência O Globo
Um levantamento da agência Reuters mostra que o Rio tem o maior mercado de Airbnb no Brasil — o que está em jogo, no momento, é a regulamentação do setor, em discussão na Câmara Municipal. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio de Janeiro (ABIH-RJ), José Domingo Bouzon, explicou que a concorrência pode ser positiva porque as formas de hospedagem se complementam:
— O que acho necessário é o controle. Quando um hóspede vai num hotel, os dados dele vão para o Ministério do Turismo— ponderou.
Para Luiz Gustavo Medeiros Barbosa, gerente executivo da FGV Projetos, os bons números também se devem a fontes alternativas de hospedagem:
— O Rio tem ambiente generoso de oferta de serviços, tem táxi e carro por aplicativo, hotel e aluguéis por temporada. Mas para a cidade alcançar um nível acima, precisa estar regulamentado.
Outro desafio é a conectividade aérea. Apesar do aumento de 18% da malha viária do país no último ano, a quantidade de voos nacionais e internacionais ainda é um entrave. A recuperação do aeroporto internacional do Galeão foi considerada ponto-chave.
— O investimento, federal, estadual e municipal, fez a diferença que o Galeão precisava. A gente conseguiu um aumento de turistas estrangeiros, mas precisamos evoluir — afirmou Daniela Maia.
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