

O artesão José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, morreu em dezembro após esperar atendimento na Cidade de Deus Cinco meses após a morte de José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, em uma cadeira da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, a família do garçom e artesão só conseguiu acesso ao laudo do Instituto Médico-Legal (IML) em maio. O documento aumentou a revolta e indignação dos parentes. Diferentemente do que foi informado por funcionários da UPA na noite da tragédia, José Augusto não sofreu um infarto. A causa da morte, segundo o exame oficial, foi “edema pulmonar, miocardiopatia dilatada e gastrite erosiva com hemorragia digestiva”.
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Para os parentes, a demora na entrega do laudo e a divergência na versão apresentada inicialmente pela unidade de saúde revelam falhas graves no atendimento e de falta de transparência por parte da gestão pública. José Augusto chegou à UPA, no dia 16 de dezembro, com fortes dores abdominais e morreu sem receber atendimento médico. A imagem do corpo, ainda na cadeira onde aguardava socorro, viralizou nas redes sociais e provocou comoção.
Vídeo mostra socorro ao homem que morreu esperando atendimento em UPA
Meiriane Mota da Silva, de 38 anos, irmã do artesão, afirma que nem mesmo conseguiu registrar um boletim de ocorrência presencialmente, nem no Rio, nem em sua cidade, no interior de São Paulo. Segundo ela, o sentimento da família é de impotência diante da falta de informações oficiais sobre o andamento das investigações e das medidas adotadas após a morte.
— A gente está indignada. Meu irmão morreu pedindo ajuda. Ele já vinha procurando a UPA há tempos, reclamando de dor no estômago, vomitando. Sempre o mandavam embora com dipirona. Quando precisou, mais uma vez, ficou largado até morrer. Disseram que foi infarto, mas o laudo mostra outra coisa. E ainda demoraram cinco meses para entregar. A gente se sente desamparada, sem respostas — desabafa.
Em nota, a Prefeitura do Rio admitiu falhas no atendimento e confirmou o desligamento de 13 profissionais que estavam de plantão no dia da morte. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, os fluxos de acolhimento e atendimento na UPA foram revisados, e as equipes passaram por nova capacitação, com foco em segurança do paciente e atendimento humanizado.
— Disseram que demitiram os profissionais e fizeram treinamento, mas como saber se isso é verdade? A gente mora longe, não tem acesso. Só queremos justiça. Isso não vai trazer meu irmão de volta, mas alguém tem que ser responsabilizado — completa a irmã, ao reforçar que a família entrou na Justiça com pedido de indenização devido à omissão de socorro dos funcionários com José Augusto.
A investigação sobre o caso segue na Polícia Civil e também é acompanhada por uma sindicância administrativa da prefeitura. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) e a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores chegaram a abrir um processo para apurar as circunstâncias do caso.
Amigo de José Augusto, o porteiro Douglas Batista da Silva foi quem o levou até a UPA naquela noite. Ele conta que o artesão se queixava de dores há dias e que era paciente frequente da unidade. De acordo com ele, José Augusto deu entrada na UPA por volta das 19h30. O laudo aponta que a morte ocorreu às 21h.
Em um dos vídeos que circularam nas redes, uma mulher que estava na UPA relata: “O homem chegou aqui gritando de dor, e só o atenderam depois que ele morreu. Isso é uma ruindade, todos são culpados”.
— Ele me ligou pedindo ajuda. Estava vomitando, com dor forte. Falei para os funcionários que era uma emergência. Quando voltei para casa, vi na internet que alguém tinha morrido na UPA. Voltei lá, reconheci o corpo. Foi um absurdo — disse Douglas na época.
Nascido em uma família com cinco irmãos, José Augusto vivia no Rio desde 2012. Vendia artesanato nas praias durante o dia e trabalhava como garçom à noite em um restaurante na Barra da Tijuca. Nos últimos meses, enfrentava dificuldades financeiras e chegou a viver em situação de rua em Copacabana.