

O núcleo jovem teve papel de destaque na primeira versão da trama Um dos pontos marcantes da “Vale tudo” original (1988) era a presença de um núcleo jovem com espaço cativo na trama. Em torno da piscina do clube e das aulas de natação, os adolescentes lidavam com dilemas da idade, como a descoberta da sexualidade, as primeiras paixões e as pressões do grupo. Agora, o núcleo jovem foi levemente envelhecido: quase todos já são universitários e se reúnem na hípica.
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A mudança de cenário acompanha também uma outra narrativa. Se antes o namoro de Fernanda (Flávia Monteiro), aos 15 anos, com André (Marcello Novaes) tinha papel importante — com cenas que discutiam temas como virgindade —, agora a relação de Fernanda (Ramille), estudante de Veterinária, com André (Breno Ferreira) surge com bem menos destaque. O conflito atual é que ela não quer uma relação muito séria com o rapaz.
Em 2025, a amizade entre André e Tiago (Pedro Waddington), por exemplo, é pouco desenvolvida, diferentemente da primeira versão, em que Tiago (Fábio Villa Verde) recebia o amigo com frequência em sua casa, criando laços e evidenciando contrastes sociais. É natural que o tabu da virgindade tenha perdido a força. No texto da década de 80, havia uma tensão quando André pressionava Nanda para transar. O discurso do rapaz era extremamente machista e agressivo (“Você acha que pode provocar um homem assim como você tá me provocando? Depois chega na hora e você diz não!”).
FOTO EXCLUSIVA DA COLUNA TELINHA: O ator Felipe Ricca está em ‘Vale tudo’
Manoella Mello/Rede Globo
Personagens que funcionavam como interlocutores dos dilemas do casal — como Flávia (Renata Castro Barbosa) e Carlos (Edson Fieschi) — perderam relevância. Antes, Nanda desabafava com a amiga sobre estar ou não pronta para iniciar sua vida sexual. A Flávia atual (Ywyzar Guajajara), que também cursa Veterinária, aparece pouco. O mesmo vale para o novo Carlos (Felipe Ricca), um veterinário que trabalha com André na hípica, mas que não tem o mesmo laço de amizade com ele.
Elenco de ‘Vale tudo’: Jarbas (Leandro Firmino), André (Breno Ferreira), Consuêlo (Belize Pombal) e Daniela (Jessica Marques)
Fábio Rocha/Rede Globo
Na ‘Vale tudo’ original, amizade de André e Tiago era mais forte
Em 1988, André vivia frequentando a casa do amigo Tiago. O convívio entre os dois rapazes despertava desconfiança em Marco Aurélio (Reginaldo Faria), pai de Tiago, que questionava a sexualidade do filho e enxergava no vínculo com André algo que poderia ir além da amizade.
Flávia Monteiro com Cássia Kiss e Fábio Villaverde em “Vale tudo”, de 1988
divulgação/ tv globo
Remake de ‘Vale tudo’ ficou sem dilemas adolescentes
Ao envelhecer ligeiramente os personagens jovens e diluir seus conflitos, o remake de “Vale tudo” parece abrir mão de abordar o processo de amadurecimento dessa turma. Se por um lado os tempos mudaram, e os tabus da juventude já não são os mesmos, por outro, a ausência de um núcleo mais jovem enfraquece o retrato mais multifacetado da sociedade.
Fernanda (Ramille), Flávia (Ywyzar Guajajara), Carlos (Felipe Ricca) e André (Breno Ferreira) em ‘Vale tudo’
Manoella Mello/Rede Globo
Mais representatividade no elenco de ‘Vale tudo’
Agora, André e Fernanda ganham novas camadas ao serem interpretados por negros. Já Flávia, na versão de 2025, ficou a cargo de uma atriz indígena. Pena que, apesar da escalação mais diversa dos atores, os personagens parecem fazer parte de um elenco de apoio.
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